POR THADEU PIRES
A aproximação das manchas de óleo, de origem não determinada, do litoral Sudeste levou uma ONG de Peruíbe, litoral sul de São Paulo, a acionar o Ministério Público Estadual e cobrar das autoridades a implantação de medidas de prevenção emergenciais.
“As correntes marítimas devem direcionar o material para a nossa costa em breve, e nós não estamos preparados para impedir a contaminação das praias e manguezais mais importantes da Mata Atlântica brasileira”, afirma Plínio Melo, secretário executivo da Mongue – Proteção ao Sistema Costeiro. A organização protocolou hoje o pedido para que o MP cobre dos poderes municipal, estadual e federal a implantação de planos de emergência para conter a chegada do óleo.
A catástrofe socioambiental que assola o litoral do Nordeste há mais de 60 dias, degradando ecossistemas e a economia local, já se aproxima de praias do Espírito Santo e deve se alastrar pelo Sudeste.
Maior remanescente costeiro de Mata Atlântica, com um sistema de manguezais que se estende entre São Paulo e Paraná, a região abriga quatro unidades de conservação costeiras, ao longo de 227 quilômetros.
“Estamos diante de uma tragédia rodeada de incertezas e desinformação, por isso, acreditamos que é extremamente oportuna a aplicação do princípio da precaução para proteger a costa e a economia do litoral paulista”, completa o secretário executivo.
Constituído pelo Governo do Estado de São Paulo no dia 30 de outubro, um grupo de trabalho multidisciplinar deverá ‘levantar informações e elencar medidas necessárias à prevenção e respostas ao acidente com derramamento de petróleo na costa brasileira’. Responsável pelo grupo, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente informou que está colaborando no monitoramento das manchas e que os chefes das unidades de conservação estariam em contato com a população, que deverá ser informada de mais detalhes em reuniões a serem realizadas ‘nos próximos dias’.
Clique para ver a representação (http://bit.ly/oleolitoral) e as justificativas apresentadas pela Mongue.
Desastre sem precedentes
Identificadas pela primeira vez no litoral paraibano, no fim de agosto, as manchas já atingiram mais de 2 mil quilômetros de áreas costeiras nos nove estados do Nordeste. A hipótese apresentada pelas autoridades até o momento é de que o óleo seja de procedência venezuelana e tenha sido descartado, de alguma forma, pelo navio petroleiro de bandeira grega Bouboulina.
A Delta Tankers, proprietária da embarcação, nega que tenha envolvimento no vazamento e cobra das autoridades brasileiras a apresentação de provas que corroborem a suspeita levantada.
Mais de dois meses após o surgimento das primeiras manchas, em 30 de agosto, a Polícia Federal disse ter identificado, em uma imagem de satélite do dia 29 de julho, uma pluma de óleo a 733,2 km da costa brasileira, a leste da Paraíba.
O complexo sistema de movimentação de correntes marítimas do Atlântico Sul trouxe o material para o litoral nordestino e agora ameaça os ecossistemas marinhos da costa Sudeste do país, podendo já ter chegado ao Caribe e estar a caminho da costa africana, como especularam autoridades federais em um grande imbróglio de desinformação.