Marcas de perfumes de luxo usam material colhido com trabalho infantil

Atualizado em 29 de maio de 2024 às 19:26
Criança trabalha na colheita de jasmim em fazenda da propriedade da Machalico. Foto: Reprodução/BBC

Marcas de perfumes de luxo têm usado material obtido por meio de trabalho infantil em seus produtos. Os fornecedores das marcas L’Oréal, dona da Lancôme, Estée Lauder, dona da Aerin Beauty, usam jasmim colhido por menores de idade no Egito. A informação é da BBC.

O país é responsável por cerca de metade da produção mundial de flores de jasmim, ingrediente fundamental para os perfumes Idôle L’Intense, da Lancôme, e no Ikat Jasmine e Limone Di Sicilia, da Aerin Beauty.

As poucas empresas que comandam as marcas de luxo têm reduzido seus orçamentos, o que resulta em pagamentos mais baixos para a mão de obra envolvida na colheita e força os trabalhadores a incluírem seus filhos na atividade.

Vale lembrar que é ilegal que qualquer pessoa com menos de 15 anos trabalhe entre 19h e 7h da manhã no país, mas há diversos registros de adolescentes entre 12 e 14 anos trabalhando neste horário.

O Egito tem vivido uma inflação recorde e a maioria dos 30 mil envolvidos no setor de jasmim no país vive abaixo da linha de pobreza. As três principais fábricas locais que trabalham na colheita da planta são a A. Fakhry & Co., Hashem Brothers e a Machalico, que definem o preço anualmente.

Essas fábricas exportam o óleo de jasmim para casas de perfumaria internacionais, onde são criados os perfumes, e a principal delas é a Givaudan, que tem sede na Suíça e possui uma relação de longa data com a A. Fakhry & Co.

São as companhias de perfume acima da Givaudan, como a L’Oréal e a Estée Lauder, que comandam o setor produtivo, definindo o roteiro e o orçamento para as casas de perfumaria.

Crianças são flagradas colhendo jasmim para a fabricação de perfume. Foto: Reprodução/BBC

Essas empresas e casas de perfumaria alegam que trabalham com ética nas práticas de suprimento, mas a fiscalização sobre as produções é falha. A maioria delas menciona a Sedex e a associação UEBT (Union for Ethical Biotrade) em seus relatórios de auditorias, mas nenhuma delas fornece os documentos ao público.

A. Fakhry & Co. alega que proíbe trabalho infantil em suas fazendas e fábricas, mas que a grande parte do jasmim é comprado de colhedores independentes. A Machalico, por sua vez, diz que não usa trabalhadores com menos de 18 anos e que aumentou o preço pago pela planta nos últimos dois anos. A Hashem Brothers apenas negou o uso de mão de obra infantil na colheita.

A Givaudan, que fabrica o perfume Lancôme Idôle L’Intense, diz que tem tomado “medidas para eliminar totalmente o risco de trabalho infantil”. A Firmenich, casa de perfumaria que produz o Ikat Jasmine e o Limone Di Sicilia para a Aerin Beauty, comprava jasmim da Mahcalico desde 2023, mas alegou que agora tem um novo fornecedor no país.

As grandes marcas de luxo alegam que estão comprometidas com o combate ao trabalho infantil. A L’Oréal diz que “nunca solicita às casas de perfumaria que comprem ingredientes abaixo do valor de mercado à custa dos produtores” e que “trabalha proativamente para identificar as causas subjacentes e a forma de resolver a questão”.

A Estée Lauder, por sua vez, diz que tem investigado o uso de mão de obra infantil e conversado com seus fornecedores. “Reconhecemos o complexo ambiente socioeconômico em torno da cadeia local de fornecimento de jasmim e estamos tomando medidas para obter maior transparência e trabalhar para melhorar as condições de vida das comunidades fornecedoras”, afirma a empresa.

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