PUBLICADO NO TIJOLAÇO
POR FERNANDO BRITO
O novo presidente do grupo Odebrecht, Ruy Sampaio, disse a Graziella Valenti, do Valor Econômico, que o ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, exigiu o pagamento de R$ 310 milhões – dos quais R$ 240 milhões já foram recebidos – para fazer sua delação premiada e, assim, permitir que a empresa pudesse assinar um acordo de leniência com as autoridades.
Marcelo Odebrecht recebeu da companhia R$ 240 milhões para assinar o acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF). A sua concordância em delatar era a condição imposta pelas autoridades para a leniência que o grupo tentava obter, ao mesmo tempo do MPF e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ), e que envolvia 77 executivos. Marcelo percebeu sua força e, num bilhete de próprio punho, escrito na prisão em 7 de novembro de 2016, vinte dias antes de assinar a colaboração, detalhou tudo o que a empresa deveria lhe garantir: VGBL [fundo de aposentadoria] equivalente a seus ativos, mais metade do que perderia dos seus depósitos na Suíça; recursos para pagar a multa, já descontados impostos; compromisso de que seria ressarcido de todo patrimônio que viesse a perder em futuras ações; e até a doação dos quadros do pai, Emílio, que estavam em sua casa. Tudo deveria estar “blindado”, ou seja, inacessível para credores ou autoridades. O total dos depósitos que lhe deveriam ser feitos: R$ 310 milhões.
Os R$ 70 milhões que faltam são o que o ex-executivo terá de pagar como multa por seus crimes. O resto é caixa, como são caixa os R$ 100 mil mensais que segue recebendo do grupo, como “empregado”.
Sampaio exibiu à repórter um bilhete, de próprio punho, escrito por Marcelo com a suas exigências, 20 dias antes de firmar seu acordo com Dallagnol e companhia e tornar-se, como todos sabem, o “bilhete premiado” da Lava Jato.
É o retrato escandaloso do grande negócio em que se transformaram as delações premiadas no Brasil.
O maior escãndalo de corrupção do Brasil não foi descoberto pela Lava jato. É a própria Lava Jato.