O apóstolo Estevam Hernandes, idealizador da edição brasileira da Marcha para Jesus em 1993, afirmou que, se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participasse da passeata pela primeira vez, ele seria bem recebido no palco. No entanto, Hernandes acredita que Lula não encontraria um ambiente acolhedor entre os fiéis.
“Neste momento, há um clima que pode ser hostil a ele [Lula], o que obviamente seria um constrangimento extremamente desnecessário. Acredito que se resguardar nesse sentido é importante”, declarou Hernandes à Folha, nos bastidores do evento.
O apóstolo ressaltou que, caso Lula comparecesse, ele seria alvo de orações, uma praxe destinada a governantes na Marcha para Jesus. “Quer queira, quer não queira, ele é o presidente”, disse Hernandes, mencionando que a Bíblia orienta orar pelas autoridades constituídas por Deus, como é o caso dos políticos eleitos.
Pelo segundo ano consecutivo, Lula enviou uma carta a Hernandes, presidente da Igreja Renascer em Cristo. A carta, descrita pelo líder religioso como “bonita” e “muito respeitosa”, mencionou que o presidente sancionou, em 2009, o projeto de lei que incluiu a Marcha para Jesus no calendário nacional.
No texto, Lula destacou a importância do evento e os valores promovidos, como paz, fé e solidariedade. No entanto, a carta continha um erro de grafia no nome do apóstolo, escrito como “Hernandez” em vez de “Hernandes”. A entrega da carta foi feita por Jorge Messias, advogado-geral da União e batista. Ele subiu ao palco, mas não leu a missiva. No ano anterior, Messias também representou o governo na Marcha e foi vaiado ao mencionar Lula.
Hernandes apoiou Jair Bolsonaro na eleição de 2022 e se encontrou com ele recentemente em Campinas. Bolsonaro não participou da Marcha este ano nem em 2023, mas esteve presente em 2019 e 2022, seu primeiro e último ano como presidente, respectivamente.
O apóstolo mencionou que convidou Bolsonaro, mas entendeu que o ex-presidente, que recentemente esteve hospitalizado, tinha outros compromissos e estava “muito cansado”. Hernandes ainda especulou sobre a força de Bolsonaro entre os evangélicos atualmente, acreditando que seu apoio não é mais uma unanimidade, mas ainda significativo.
“O tempo desgasta muitas coisas, e a própria ausência, a inelegibilidade [de Bolsonaro], acredito que possa de alguma forma ter enfraquecido, que ele não tenha exatamente aquilo que praticamente era uma unanimidade. Acho que hoje isso não existe, mas que uma maioria muito, muito grande o apoia”, afirma Hernandes.
Para Estevam Hernandes, a Marcha para Jesus tem o objetivo de “quebrar o radicalismo desta polaridade que temos no Brasil”. Ele destacou que, embora o segmento evangélico seja inclinado ao conservadorismo nos costumes, não há tabus que impeçam o diálogo. “Fazem uma leitura errada do sentimento evangélico”, afirmou.