Por Nathalí
De repente todos os meus amigos assistem Pantanal. De repente no meu feed do Instagram só dá Pantanal. Então quando minha melhor amiga fez uma ilustração de Juma, de Pantanal, eu pensei: fim da linha, vou ter que ver um capítulo. E agora eu assisto Pantanal.
Portanto, anti-globistas radicais, talvez vocês não queiram continuar a leitura, porque esse texto é sobre Pantanal, mas quem sabe mudem de ideia se souberem que ele é também sobre o fato de o mundo estar mudando pra melhor, apesar de parecer tão frequentemente que acontece o contrário.
Não é o caso de ser maria-vai-com-as-outras (pelo contrário, eu sou sempre do contra, que nem aqueles adolescentes chatos que meio que fedem a chulé): é que dessa vez não deu.
Primeiro, não vi sequer uma atuação mediana nessa novela. Essa preparadora de elenco merece um prêmio, e urgente. Todas as atuações são simplesmente magníficas, mesmo aquelas dos personagens secundários. Segundo, a trilha sonora é um show à parte. Trilha sonora com Maria Bethânia é coisa fina. Terceiro, a história é clássica sem ser clichê, uma coisa dificílima em se tratando de novelas da globo.
Eu até já tenho uma personagem favorita: Maria Bruaca, uma mulher traída e humilhada que vai se empoderando em um desenvolvimento de personagem surpreendente na medida certa.
O marido, Tenório, é um bígamo inescrupuloso que mantém duas famílias (nada novo sob o sol em terra de coronel), e humilha a esposa de todas as formas possíveis: “mulher, vá se lavar, que hoje eu quero lhe usar”, era sua fala preferida no início da trama.
Agora, é ela quem pergunta: e você, já se lavou?
Essa resposta-pergunta, que parece uma troca inofensiva de papéis, é na verdade fruto de muito aprendizado da Bruaca com a vida e com sua filha, Guta, uma jovem mulher à frente do seu tempo que leva até sua mãe mensagens de libertação a cada diálogo.
Talvez essa troca geracional seja a coisa mais bonita da novela, e sua mensagem mais potente: sim, se você olhar bem, o mundo também está mudando para melhor, graças a quem tem lutado por isso, as Gutas da vida, com suas justas revoltas de nascença, e as bruacas que vão se revoltando à medida que em que são maltratadas.
Na primeira exibição da novela, em 1990, Pantanal era um sucesso estrondoso e Maria Bruaca, tida pelo público como chacota. Hoje, é ovacionada e os espectadores vão à loucura quando ela trai o marido no meio do mato com um peão da fazenda.
A personagem é a mesma: uma mulher fora dos padrões de beleza, sem instrução e sem alternativa, rebelando-se contra um casamento infeliz com a ajuda da filha inteligente e libertária.
O que mudou foi o público: se antes uma mulher humilhada provocava risos no público, agora esse público a ovaciona e torce por ela – e olha que nós estamos falando do público da globo.
Sim, o mundo está mudando pra melhor.
Ou isso ou as coisas estão tão feias nos noticiários que estamos tendo de buscar esperança na novela das oito.
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