Acabou a folga para Marina.
Esta é a principal conclusão que emerge da entrevista com ela no Jornal Nacional.
Até aqui, ela só bateu nos outros. Quer dizer em Dilma e em Aécio, os representantes da “velha política”. Nem Dilma e nem Aécio, tão entretidos um com o outro, revidaram.
Agora, com seu crescimento vertiginoso nas pesquisas, ela vai começar a apanhar.
A pergunta que só encontrará resposta nas próximas semanas é quanto este novo cenário – em que ela passa a ser o alvo preferencial de Dilma e de Aécio – poderá afetá-la.
Que ela tem pontos vulneráveis ficou claro na entrevista do Jornal Nacional.
Patrícia Poeta lembrou, por exemplo, um fato que ninguém usou ainda contra ela: a baixa votação de Marina, em 2010, em sua terra natal, o Acre.
Marina ficou em terceiro, atrás de Serra e de Dilma.
Isso pode ser usado da seguinte forma pelos adversários: atenção, quem conhece não gosta.
Em 2010, ela disse, com voz embargada, que o terceiro lugar era “uma tristeza muito grande”. (Seu então companheiro de chapa, o empresário Guilherme Leal, foi breve: “Não tem explicação.”)
Agora, ela tirou da bolsa o velho clichê que diz que santo de casa não faz milagre.
Invoco aqui, mais uma vez, Wellington com sua sentença definitiva: quem acredita que o provérbio explica a surra de Marina entre seus conterrâneos acredita em tudo.
Marina também se enrolou para dizer por que quando os outros se juntam a pessoas diferentes para compor uma chapa é “velha política” e quando ela se junta a alguém como Beto Albuquerque é “nova política”.
Albuquerque é financiado por empresas de transgênicos, armas e bebidas – algo que um alguém realmente “puro” simplesmente não engoliria.
Marina desconversou. Fez a apologia da “diversidade”, e aproveitou para dizer que trabalhar com pessoas diferentes prova que ela, ao contrário do que se diz, não é “intransigente”.
Marina demonstrou aí a cara de pau cínica não da velha, mas da velhíssima política.
Marina pode ser desconstruída, sem dúvida. Mas vai ser?
A descontrução leva algum tempo. Dificilmente o cenário vai mudar daqui até o primeiro turno. Dilma e Marina passarão, muito provavelmente, para o segundo turno.
Aí então começará uma nova disputa.
A surpresa já terá passado, a onda também, as emoções associadas à morte de Campos igualmente. E Marina dificilmente sustentará a imagem virginal.
Muitos dos jovens idealistas que viram nela uma resposta ao mofado mundo político nacional – e eles são a essência do fenômeno Marina — perderão as ilusões diante dos fatos como eles são.
Isso tudo quer dizer o seguinte.
Até há pouco tempo, com Campos na corrida, estava espalhada a sensação de que Dilma já ganhara, ou no primeiro ou no segundo turno.
Agora, com o surgimento estrepitoso de Marina na disputa, para muitos ela já ganhou.
Nem Dilma estava garantida antes, e nem Marina agora.
Terminada a fase de pêsames e de luto, liquidada uma situação que a deixava fora dos ataques de Dilma e de Aécio, começa um novo tempo para Marina, muito mais áspero e volátil.
O jogo está aberto — exceto para Aécio, cuja candidatura se parece cada vez mais com um cadáver.
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