Marta e suas companheiras deram mais um show na vitória por 5 a 1 contra a Suécia na segunda rodada do Grupo E da Olimpíada.
A camisa 10 fez dois gols, o mais bonito numa tabela involuntária com uma zagueira adversária. Levou a bola de chaleira com a direita, que não é a perna boa, e arrematou com a canhota.
O estádio inteiro reconheceu: “Ah! Marta é melhor do que Neymar!” Ela, que coleciona cinco prêmios de melhor jogadora do mundo, agradeceu. “Isso é o carinho do público. Essa comparação a gente deixa para a torcida”, falou. “É importante ter um Neymar, uma Marta, uma Formiga, uma Cristiane”.
Marta foi modesta. A torcida, com sempre, está correta.
Ela e suas colegas merecem ser vistas, reconhecidas e prestigiadas não apenas pela alta qualidade do futebol, que dá gosto de ver, mas pelo exemplo de abnegação, fazendo o impossível sem qualquer apoio, enfrentando a falta de grana, a invisibilidade e o preconceito.
São o oposto do bando milionário de mimados incompetentes, de perdedores evangélicos sem brio, comandando por cartolas corruptos, que tomou a seleção masculina de asssalto.
No ano passado, o site da revista The Atlantic publicou uma excelente reportagem comparando a trajetória de Marta, a de Neymar e seus caminhos cruzados (eu tinha escrito sobre isso).
Nos últimos nove anos, ela passou por sete equipes que fecharam as portas por falta de investimento. Na Copa do Mundo Canadá, tentou despertar, sem sucesso, a atenção do público brasileiro e de patrocinadores.
Enquanto isso, Neymar faz propaganda de qualquer coisa, de cueca a rum creosotado, fatura — e sonega. Teve problemas com a Justiça espanhola em torno de seu contrato com o Barcelona. Precisava?
Marta jogou no Santos em 2010. Quando Neymar começou a ser cortejado pelos europeus, o Santos fez o possível para cobrir seu salário e segurá-lo. Isso incluiu eliminar o time feminino em 2011.
Segundo a Atlantic, ela chegou a pedir ajuda ao colega. Não é nenhuma extravagância. Na Inglaterra, quando o grupo feminino teve um problema financeiro e quase sucumbiu, o capitão John Terry e outros atletas se mobilizaram para tentar um suporte monetário.
Marta se manifestou sobre os escândalos na CBF. “É triste o que tem acontecido, mas também é bom porque é merecido, e dá uma esperança que as coisas melhorem”, disse. “O futebol masculino ainda tem clubes fortes, patrocinadores, mas o feminino depende bastante de instituições como a Fifa, que é quem pode investir. E aí, é triste você ver nessas horas que o investimento poderia ser maior, se não fossem essas coisas.”
Não que Neymar não mereça o sucesso. Merece, mas é isso? Mais um jatinho, mais um iate, mais um séquito de puxa sacos, mais balada, mais sonegação?
Não à toa, ele não falou e jamais falará sobre a roubalheira da Fifa e da CBF, já que é parte do problema e não da solução. Neymar é craque, sem dúvida. Marta, porém, a estrela de um exército de Brancaleone no país dos Del Neros, faz parte de outra categoria: a das heroínas.