“Meu filho teve o rosto fraturado em dois locais e não foi pisoteado. Meu filho apanhou da polícia, levou cacetada na cara”. Foi assim que começou a conversa com a Tais nessa quinta-feira (06), durante um ato de protesto que aconteceu no MASP contra a violência policial em Paraisópolis, que resultou em 9 mortos.
Tais é mãe de Matheus, um dos jovens que sobreviveram à ação da PM no baile funk da DZ7 desse final de semana, durante a madrugada de sábado para domingo. Com dois ossos do rosto quebrados, o garoto desmente a versão oficial de que as vítimas morreram por pisoteamento. “Ele me ligou era mais ou menos umas 3h30 da manhã, ele já tinha apanhado e o que conta é que não viu ninguém sendo pisoteado”, a mãe explica.
“Chegaram batendo, sem motivo. E eles cercaram, não tinha como sair. Eles cercaram as duas partes da rua e o que sobrou foram as vielas, um prato cheio pra PM que conhece muito bem a favela. Meu filho não era de lá, os adolescentes que morreram não eram de lá. É ridículo, desumano demais”, desabafa.
Tais fala em nome das mães que tiveram a vida de seus filhos arrancadas. Elas querem justiça, o que ainda é pouco: “mesmo que venha justiça, não vai trazer a vida dessas crianças. Nem dessas nem de tantas outras”.
Agora, o que resta à família é esperar que o rosto do garoto seja operado e sua visão volte ao normal. Mesmo assim, o medo do que aconteceu e acontece todos as semanas fica. “Agora eu não vou poder deixar meu filho sair de casa, vou prender ele não com medo do ladrão, mas com medo da polícia. Isso é ridículo”, Tais prevê, em tom de revolta.
Ao som de frases como “Chega de chacina, eu quero o fim da PM assassina”, os manifestantes se reuniram na Avenida Paulista para pedir punição aos responsáveis. João, representante do Partido da Causa Operária (PCO), conta que marcou o ato “porque não podemos deixar o caso de Paraisópolis passar em branco”. “Não foi um acidente, foi assassinato”, afirma.
Outros movimentos se juntaram ao protesto. A Frente Autônoma Antifascista de São Paulo (FASP 16) também estava presente, com um forte discurso crítico à guerra contra as drogas. “Isso existe há muito tempo e quem se prejudica com ela não são os jovens brancos e de classe média nas festas de faculdade particular, cheias de drogas”, afirma Samuel, representante da frente.
O mesmo pensamento é reforçado por Marina, estudante negra e prounista da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Eu falo com propriedade, pois todo mundo sabe bem que naquele lugar o consumo de drogas é legalizado como se fosse em Amsterdã. A chacina que aconteceu em Paraisópolis só aconteceu por um motivo: cor. Preto, pobre e favelado, está aí um grupo que é o alvo da polícia racista e seu discurso de branqueamento dos espaços”, reforça.
A manifestação também não deixou de dar nome aos bois. Para o Movimento Cristãos de Esquerda, o massacre no baile de favela foi resultado da polícia “genocida, racista e elitista” do governador de São Paulo, João Doria, e do discurso fascista do presidente Jair Bolsonaro.