Mau exemplo: para não pagar imposto, Paulo Guedes instalou empresa em “paraíso fiscal”. Por Fernando Brito

Atualizado em 22 de agosto de 2019 às 7:26
Oasis Fiscal. Foto: Reprodução/Tijolaço

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Esta casinha modesta na Rua Padre Guilherme Pompeu, n°1, no Centro de Santana do Parnaíba, periferia de São Paulo, serve de “lar” contábil para a empresa “NamoroonLine” de Paulo Guedes (até 28 de dezembro) e de seu irmão Gustavo Guedes.

Centenas de empresas estão ficticiamente sediadas neste endereço, um dos diversos que se aproveitam do “paraíso fiscal” que leis municipais – contestadas judicialmente – para pagar menos ou nenhum imposto.

As empresas “sérias” de Paulo Guedes – também com o irmão de sócio – ocupam outros endereços, a maioria no Edifício Argentina, em Botafogo, no Rio de Janeiro.

A de relacionamentos virtuais foi parar em Santana do Parnaíba, numa casinha que aluga o endereço como sede de empresas.

Por falta de aviso não foi, uma vez que a Folha publicou, em novembro de 2013, reportagem sobre a tal ‘casinha”‘, com o título “Oásis fiscal em SP dá sede fictícia por R$ 100” relatando que a Lokal Assessoria “aluga” o endereço a terceiros, por módicas quantias:

Para alugar um “endereço fiscal” na cidade colada a São Paulo, uma espécie de sede de fachada usada simultaneamente por mais de uma dezena de empresas, basta pagar de R$ 100 a R$ 203.
A atendente não informa, mas quem optar pela oferta de R$ 100 dividirá a “sede” a pouco mais de 1 km da prefeitura com quatro empresas investigadas pela Polícia Federal por um esquema de desvio de dinheiro público.
A casa rosa numa rua pacata é um dos dois endereços oferecidos pela Lokal Assessoria, cuja atendente afirma não saber se todos os seus clientes são “de boa fé”.
“Alugar endereço fiscal é prática comum. As empresas de fachada vão ser usadas de forma temporária, específica, pela organização criminosa”, diz o delegado Cairo Costa, da divisão de repressão contra crimes financeiros da PF.

A casa agora não é mais rosa, mas laranja. No resto, segue igual.

Em qualquer lugar do mundo, um ministro da Economia ter se servido de “espertezas fiscais” para não pagar imposto por um site de namoro cibernético seria um escândalo. Aliás, o site de namoros já seria escandaloso, sobretudo por apelar para a fé evangélica para lucrar com isso.

Aqui, toda a nossa imprensa ignora o assunto até que ele venha a ser usado para os interesses do poder, como os jatinhos financiados de João Dória e Luciano Huck – salvo por uma solitária reportagem na Folha – foram levantados por este blog em fevereiro de 2018 (aqui e aqui) e ficaram na Sibéria do esquecimento ao longo de toda a campanha eleitoral.

A “tchutchucagem” rentável dos irmãos Guedes não é notícia. Afinal, ele estudou em Harvard, não é um “paraíba”.