É bem possível que Maurício Souza do vôlei esteja na verdade comemorando sua demissão do Minas Clube. Já em fim de carreira, trata-se da oportunidade perfeita para posar de mártir da liberdade para discriminar, do direito de ser preconceituoso, de propagar o ódio contra minorias, e quem sabe virar ministro de Bolsonaro.
Por isso um dos paradoxos fundamentais dos nossos tempos é o que fazer em relação a gente como ele. Gente que conquistou alguma visibilidade, mas não tanta, e encontra em discursos odiosos uma forma de aparecer na mídia, de conquistar seguidores nas redes sociais ou uma carreira na política.
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A homofobia parece ser o caminho mais fácil para isso. Pela lei é crime, mas na prática ainda não se tem notícias de homofóbicos indo parar na cadeia por seus crimes. Nesse vácuo da justiça institucional, o que resta parece ser apelar para as fontes de renda. Empresas que sabem que não é nada bom atrelar suas marcas a esse tipo de gente.
Maurício foi demitido principalmente por pressão dos patrocinadores do clube, mas no seu primeiro “pedido de desculpas” pareceu inclusive debochar da exigência de retratação pública feita pelas empresas, e postou numa conta de Twitter com menos de cinquenta seguidores.
Maurício realmente não parece nada preocupado com o futuro de sua carreira no vôlei. Talvez por nunca ter recebido tantos holofotes em função de suas atuações dentro de quadra, quanto agora pelos chorumes expressos.
O paradoxo de criticar gente assim é que a crítica pode garantir a ele justamente a visibilidade que deseja. Maurício sabe que representa o recalque de muitos, mas que disputa esse espaço de porta-voz dos ressentidos com diversos outros aspirantes aos mesmos cargos que ele. Assim ele depende nesse momento diretamente de quem o critica, inclusive mais do que daqueles que pretende representar.
Mas seria então melhor ignorá-lo? Duvido que seja, ou esse texto não existiria. O que parece necessário é entender claramente o que está em jogo. Denunciar não apenas a homofobia e a violência por ela ocasionada nos mais diversos níveis, mas também o absurdo da questão, o quanto soa falsa essa preocupação toda. Há famílias inteiras disputando restos de alimentos com as baratas, enquanto a revolta de Maurício é com o Super-homem beijando rapazes.
E diz fazer isso em defesa das famílias, como se de fato fosse a sexualidade alheia o que ameaça as famílias, e não a miséria, a desigualdade, o desemprego recorde, a inflação descontrolada e tantos outros problemas reais que, ao contrário da sexualidade, podemos lutar para mudar.
Mas até quando a LGBTfobia vai servir de palanque para gente como Maurício e de espantalho a afastar tantas pessoas dos debates políticos que realmente importam? Não que o tema seja irrelevante, pelo contrário, trata-se literalmente de uma questão de vida ou morte para muitos. Porém se trata de um falso problema, uma “ameaça” de mentira, forjada e mantida por gente como Maurício, e que ainda consegue enganar milhões.
Pessoas que muitas vezes também vivem na miséria, seja ela material, afetiva, espiritual, e que continuam a ter a sua atenção desviada dos problemas que lhe afetam de verdade por mamadeiras de piroca imaginárias.
Ilusões mantidas por gente que só tem em vista o próprio benefício.
Cabe assim a nós denunciá-los pelo que são. E talvez mais do que homofóbicos, sejam impostores, demagogos, hipócritas de todo tipo. Gente de fato muito mais preocupada com a própria conta bancária do que com o bem-estar das famílias ou a sexualidade alheia. Gente que acredita que a fórmula que serviu tão bem a Bolsonaro ainda não está saturada.
Que basta à subcelebridade demonstrar orgulhosamente preconceito e ignorância. Identificar grupos historicamente marginalizados como inimigos a serem perseguidos, se possível exterminados, e não lhe faltarão votos ou infelizes seguidores.