MBL persegue seus adversários, mas perde ações na Justiça. Por Mauro Donato

Atualizado em 4 de maio de 2018 às 14:25
Renan Santos, Kataguiri, Holiday e o atual prefeito de SP, Bruno Covas

No discurso, o liberalismo e todas as liberdades, incluída a liberdade de imprensa. Mas só até a página 2, pois na prática – além de ser um dos maiores fabricantes de fake news – o MBL (Movimento Brasil Livre) persegue quem não lhe é simpático.

A página O Jacaré de Tanga não pode ser considerada um veículo jornalístico. Dona de um blog e perfil nas redes sociais, ela própria se define como uma página de humor político, ‘movida pela zoeira’. E o MBL não gosta nem de humor, nem de artes plásticas, nem de professores de história, nem de bônus 188bet. Gosta menos ainda de quem lhe tire a máscara. Por isso, o movimento de Kim, Holiday e companhia desmiolada entrou com uma ação na Justiça objetivando tirar O Jacaré de Tanga de ar e proibindo suas postagens relativas ao MBL.

 

Tudo começou na seção de comentários de uma postagem, na qual um dos administradores do Jacaré recomenda a seu detrator que se informe melhor sobre quem verdadeiramente são ‘os meninos’ do MBL e adicionou um link da JusBrasil (um site jurídico) contendo o ‘perfil’ de Renan Santos e seus familiares. Uma longa ficha corrida se apresentou.

Como Alexandre Santos, irmão de Renan ali mencionado, era um homônimo (sim, existem outros Alexandre Santos e igualmente picaretas) e alguns dos crimes não eram os atribuídos ao fascistóide fundador do MBL, o Jacaré pouco tempo depois excluiu aquele link. Mas a raiva havia contagiado a família Santos e as medidas jurídicas já estavam tomadas.

Primeiramente o MBL obteve uma liminar que determinava que a página O Jacaré de Tanga fosse tirada do ar e ainda estipulou ‘multa pecuniária diáriapelo descumprimento da determinação acima consignada, da ordem de R$ 1.000,00. Neste sentido: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Postagens realizadas pelo agravante em rede social (Facebook), com escopo de promover ataques pessoais aos agravados. Fotografias nas quais é exibida arma de fogo, o que denota a intuito intimidador do recorrente.’

Seria cômico se não fosse preocupante, o judiciário defender a ‘moral’ do MBL e de embusteiros como Renan Santos e seu irmão (não o homônimo, o do MBL mesmo que arrecada doações dos apoiadores e direciona tudo sabe-se lá para onde, pois o MBL nunca prestou contas a ninguém e Santos tem mais de 125 processos cujo total passa dos R$ 20 milhões). Daí dizem estar sofrendo ‘injúrias, diafamações, ataques a honra’? Que honra?

E o que dizer sobre sentirem-se ameaçados por arma de fogo? Ué, eles não são favoráveis a que todos andem armados? Não vivem postando fotos com pistola e fuzis em punho? Estão com medo de que?

Quer mais detalhes pitorescos, leitor? Na petição encaminhada ao Juiz de Direito da Vara Cível do Foro Central da Comarca da Capital de São Paulo, Alexandre Santos, o ‘Salsicha’, qualifica-se como “coordenador do Movimento Brasil Livre, de cunho liberal e responsável pelas maiores manifestações da historia do Brasil ocorridas por ocasião do impeachment da ex–presidente Dilma Roussef.” Tocante, não? Heroico.

Como nem todo o sistema judiciário está perdido, nesta semana a liminar foi cassada por uma análise simples: não havia difamação alguma.

Os dois lados se conhecem bem. Não à toa o MBL foi pra cima do Jacaré de Tanga (por que não entrou com ação contra o JusBrasil, por exemplo?). A rusga vem de longe. A página O Jacaré de Tanga é do advogado Cleber Teixeira, que trabalhou para Fernando Holiday nas eleições de 2016. No começo deste ano, Cleber Teixeira apresentou denúncia ao Ministério Público Federal na qual afirma que o ex-prefeito João Doria teria doado mais de um milhão de santinhos para a campanha de Holiday para vereador pelo DEM. 

Segundo Teixeira, metade do dinheiro arrecadado pelo líder do MBL não foi declarado e teria sido operado por meio de caixa dois. Ainda que Doria e o MBL neguem, não existem registros no TSE de doações para Holiday, ao passo que imagens e áudios revelam a chegada do material gráfico ao comitê de Fernando Holiday na época. Ou seja, ‘A campanha mais barata de São Paulo, com o menor custo por voto recebido’, só foi barata porque camuflou muita coisa.

Outro fator que faz com que O Jacaré não desça pela garganta do MBL é Alexandre Frota. Figurinha fácil nos vídeos da página, o bombado ex-ator pornô é o proprietário do CNPJ da marca MBL e trava uma disputa judicial com a turminha asquerosa pelo direito de uso exclusivo do nome, logotipo, etc. E a equipe de O Jacaré de Tanga é quem cuida da campanha de Frota para candidato a deputado.