Um dos símbolos mais demonizados da globalização é a rede de lanchonetes McDonald’s, com seu M amarelo ubíquo e seu palhaço esquisitão. São 31 mil restaurantes em 119 países. Mochileiros radicais e puristas do ato sagrado de viajar pelo mundo acreditam que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um frequentador do Mac entrar no reino dos verdadeiros viajantes. Embora não seja um fã de fast-food, eu gosto de comer um Big Mac, eventualmente, quando estou fora do país. Principalmente quando estou com meus filhos, Armandinho e Jinecey,e com pouca grana. Qual poderia ser o grande pecado, eu não entendo.
Se você tem saudade de algo familiar e está em Sydney, por que não encarar um McChicken? Porque, segundo a Igreja da Viagem Autêntica, isso é dar dinheiro para os imperialistas e conspurcar a missão da jornada divina. Viajante de verdade come em um bistrô de segunda categoria, cujo dono é também o garçom e atende de mau humor e com as unhas sujas. Mal sabem eles que, não, nem todo McDonald’s é igual e, sim, eles servem pratos típicos. Na Islândia tinha carne de baleia e de uma ave chamada papagaio-do-mar. No Canadá é servida a pouttine, batata frita coberta com cheddar e molho de ervas. Na Costa Rica tem arroz e feijão. Em Israel servem o McKebab, no Chile o hambúrguer pode vir com cobertura de abacate e no Havaí tem presunto enlatado.
Assim como uma experiência na Itália será diferente para você e para mim, ainda que visitemos as mesmas ruínas romanas, uma experiência gastronômica também nos enriquecerá de maneiras distintas. Claro que é fundamental, em uma viagem, provar a cultura do lugar, os hábitos, a arte, a língua. Mas, se, na hora da fome, você estiver passando em frente a um McDonald’s e não resistir a um McNuggets, isso não fará de você um alienado, mas um turista inteligente e sem fome.