Publicado originalmente no RFI
Qual protocolo de saúde para o início do ano letivo na França? A menos de duas semanas antes do retorno dos alunos às aulas, que ocorrerá em 1º de setembro, nada foi anunciado pelo governo. Em uma carta aberta publicada nesta quarta-feira (19), sete sociedades francesas de pediatria defendem o aumento da vacinação contra influenza e gastroenterite, o uso de testes mais rápidos do que o PCR e regras mais claras face aos casos suspeitos.
No total, a França já registrou 221.267 casos e 30.451 mortes desde o início da pandemia, e o número de casos que vinha baixando desde maio voltou a crescer, com registros de 3.000 novos contaminações diariamente.
“O risco de ocorrência de contaminação pelo SARS-CoV-2, tanto em crianças quanto nos adultos que as supervisionam, é real ”, alertam os especialistas. “Nós só podemos estar preocupados, à medida que se avizinha, com a organização do novo ano letivo, tanto em termos de prevenção do que em termos de acolhimento de crianças.”
“As crianças com menos de 10 anos são menos frequentemente contaminadas por este vírus e menos contaminantes do que os adultos. Mas devemos absolutamente evitar dizer que elas não transmitem o vírus”, alerta o professor Robert Cohen, especialista em doenças infecciosas pediátricas do hospital de Créteil e vice-presidente da SPF, no jornal Le Monde.
Os pediatras lembram que episódios virais, com sintomas como febre, tosse, resfriado e diarreia, são frequentes no início do outono, que coincide com o início do ano letivo no hemisfério norte. Eles recomendam que a aplicação da vacina contra a gripe sazonal seja feita de forma mais abrangente e que a vacina contra o rotavírus, principal causador de gastroenterite, seja recomendada pelos médicos e coberta pelo governo, o que não é o caso atualmente na França.
Professores estão desmotivados
Enquanto a França observa o ressurgimento da epidemia em algumas regiões, os professores estão “no escuro”. Eles esperam um anúncio oficial sobre como se dará este novo ano letivo para poderem se preparar. É o caso de Emilie Pruvot, professora de biologia em uma escola agrícola do norte da França.
“A gente não tem informação oficial. Então, neste momento eu imagino que não teremos distanciamento social nas classes, por falta de espaço, mas que teremos todos de usar máscaras, alunos e professores”, especula Emilie em entrevista à RFI.
“O fato de usar máscaras em sala de aula me bloqueia um pouco, porque a gente não vê as expressões dos alunos. Fica mais difícil haver uma troca entre nós. Eu confesso que estou um pouco à deriva, e aguardo ansiosamente uma informação oficial para saber como vai ser esta retomada. Se a gente voltar a ter aulas a distância, eu vou precisar rever todo o meu planejamento, porque as aulas de base que eu preparo para cada ano não são adaptadas para serem dadas a distância”, explica.
“Em março, quando fomos confinados de um dia para o outro, nas duas primeiras semanas eu tive que trabalhar duro, horas a fio, para adaptar minhas aulas. Eu gosto que os alunos interajam, crio jogos e outras atividades presenciais. Tudo é feito para estar em classe com os alunos. Se neste ano a gente tiver que fazer, por exemplo, uma semana em casa e outra na escola, vou ter que rever todas as minhas aulas. É uma carga de trabalho enorme”, conta.
Emilie admite estar menos motivada para preparar as aulas que nos anos anteriores. “Eu gostaria de saber logo, porque se for para revisar os cursos e adaptá-los para que sejam dados a distância; gostaria de saber para estar preparada. Por enquanto, estou em compasso de espera. Falei com outros colegas e a gente não se sente motivado a preparar as classes agora sem saber se elas serão presenciais ou a distância. É a volta às aulas em que me sinto menos motivada”, confessa.
Sindicatos de professores pediram um encontro com o ministro da Educação francês, Jean-Michel Blanquer, que deve anunciar o protocolo numa conferência sobre a volta as aulas na próxima quarta-feira (26).