Publicado originalmente na “RFI”
“Faltam narcóticos, faltam sedativos, faltam opióides. Fazemos muitas operações com meia dose de sedativo, o que é terrível”, disse à AFP, Léo Cans, chefe da missão da MSF nos territórios palestinos, que trabalha em Jerusalém e está em contato com suas equipes em Gaza. “A pessoa não está completamente adormecida quando deveria. Às vezes, para certas operações, é sem anestesia mesmo”, disse ele.
Cans relatou a operação, esta semana, de “uma criança de 10 anos, que teve que amputar metade do pé esquerdo sob semi-sedação, no chão do hospital, no corredor, porque todas as salas de cirurgia estavam lotadas”.
“A mãe dela estava lá, a irmã dela estava lá. Elas estavam assistindo à operação (…) no chão”, disse ele.
O médico também se referiu ao caso de uma criança de 12 anos que teve 60% do corpo queimado. “Temos que trocar seus curativos (…) Os médicos fazem isto com paracetamol”, para paliar a dor do paciente explicou.
Cans acrescenta que era “muito difícil suportar”, para os profissionais de saúde, obrigados a estabelecer prioridades de acordo com a gravidade das lesões. “Em termos de gestão da dor e do sofrimento, é terrível”, insistiu, pedindo o fim urgente dos bombardeios e o envio de produtos médicos.
Muitas mulheres e crianças
Entre as vítimas, “recebemos crianças demais e mulheres, o que nos leva a dizer que os bombardeios são indiscriminados”, diz.
O coordenador explicou que tem contato limitado com suas equipes. “É quase impossível coordenar as nossas atividades após o apagão total das comunicações na Faixa de Gaza” desde sexta-feira à noite.
Além disso, insistiu Cans, o apelo do Exército israelense para evacuar o norte e dirigir-se para o sul equivale a “pedir aos profissionais de saúde que abandonem seus pacientes”.
Em qualquer caso, “não há lugar onde possamos estar seguros” e os ataques também são intensos no sul, acrescentou.
O MSF tem cerca de 230 profissionais na Faixa de Gaza. “Muitos perderam suas casas”, “passam boa parte do dia à procura de água e alimentos”, disse, fazendo soar “o alarme sobre a potabilidade da água”.
Com informações da AFP