O grupo de WhatsApp que reúne pesos-pesados da economia e que defende a ruptura com a democracia em caso de vitória do ex-presidente Lula no pleito de outubro também é um disseminador de desinformarção e de fake news.
O jornalista Guilherme Amado, do Metrópoles, acompanhou por dois meses o grupo e observou nele a propagação de mentiras sobre o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, assassinados no Vale do Javari, sobre as urnas eletrônicas e sobre as vacinas.
Antagonistas das instituições e da democracia, empresários Luciano Hang e os donos de empresas como Mormaii, Valeshop, Dalçoquio, entre outras, divulgaram postagens de homofobia, preconceito contra quem trabalha em pról da população de rua e ódio a jornalistas e veículos de imprensa.
O empresário Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono das lojas de surfwear Mormaii, reconhece a força da mentira e já disse no grupo que “guerra de informação é uma das armas mais poderosas. Segundo ele, há uma guerra contra contra os adversários do presidente: “Em todas as guerras [as fake news] são de importância estratégica!!!! Eles usam direto. Nós apenas estamos olhando.”
Morongo tem consciência da arma suja que usa: ““Se não precisar mentiras… ótimo!!!! Mas se precisar para vencer a guerra é aceitável. Muito pior é perder a guerra!!!! Esta mídia e políticos em geral são todos mentirosos profissionais! O Bolsonaro é o esteio da verdade… Isso é indiscutível e muito nobre. Mas os soldados rasos não precisam ou não podem ter a mesma nobreza exatamente porque estão lutando corpo a corpo. Dedo no olho, pontapé no saco. Também não apoio eticamente a mentira. Óbvio. Mas não posso no momento condenar quem usa de todas as armas para lutar contra um mal muito, muito. Muito maior!!! É GUERRA!!!!”
Uma das fake news divulgadas no grupo tratava do do desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips, assassinados no Vale do Javari, na Amazônia. O dono da Valeshop, Marconi Souza, compartilhou em 13 de junho um texto que culpava a dupla por não ter autorização da Funai para transitar na região: ““O inglês Dom Philips… este aí tem uma outra história, que é a ponta de um iceberg que a esquerda mundial, o PT, PSOL e a mídia farão de tudo para desviar a atenção, pois foi um tiro no pé, tal qual o caso Marielle”, dizia o texto, que Marconi Souza encaminhou admitindo não saber da veracidade.
“Ele [Phillips] fazia uma reportagem, sem autorização legal da Funai, Ibama e sem o conhecimento do governo estadual e federal em reservas indígenas. Ele trabalha para uma ‘Fundação Internacional de Jornalistas Engajado’, chamada Fundação Alicia Patterson. Procurem no site. Buscando quem financia estas reportagens, que oferece bolsas, etc… eis que encontrei.. ele mesmo Bill Gates e outros gigantes que querem controlar a mídia e o mundo”. Em reposta ao texto, Morongo, da Mormaii, fez troça da situação: “karma existe…”.
Nelson Piquet, o ex-piloto de Fórmula 1, compartilhou texto em 20 de junho afirmando que compartilhou, no dia 20 de junho, um texto defendendo que “os transmissores da Globo precisam ser lacrados urgentemente em todo o Brasil”.
“A guerra ao presidente do Brasil já não é mais velada, tornou-se escancarada e desproporcional, levando a uma inversão de papéis que atenta contra a democracia”, dizia a mensagem compartilhada por ele e tarjada pelo WhatsApp com o selo “Encaminhada com frequência”. Piquet também já havia enviado ao grupo o vídeo com ataques ao STF.
Emílio Dalçoquio, dono da transportadora Dalçoquio, a maior de Santa Catarina e que possui uma frota de centenas de caminhões, escreveu, em 25 de maio, contra a jornalista Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo: “Nojenta, como todo apoiador de bandidos vítimas da sociedade. (…) Hipócrita traidora”. O empreiteiro Meyer Nigri, dono da Tecnisa , nome influente no governo, acompanhou Dalçoquio nas ofensas à colunista da Folha de S.Paulo. “Ela é uma fdp!”, disse. O usineiro José Pessoa acrescentou “essa feladaputa (sic) iria festejar se tivesse policiais mortos!!!! Bandida!!!!”.