O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, afirmou, nesta terça-feira (18/06), que o mercado ficará surpreso novamente com o desempenho da economia brasileira, pois os indicadores são muito consistentes. Até maio, as aprovações de crédito da instituição cresceram 90% em relação a 2023, e os desembolsos, 27%.
“Nós estamos com a menor taxa de desemprego nos últimos 10 anos. A população ocupada é a maior da história do índice de pessoas que estão ocupadas trabalhando. A massa salarial real, o poder de compra do salário, é o melhor da história econômica do Brasil. E a renda da população cresceu 6,1% nos últimos 12 meses. Então, você tem uma economia, o mercado de trabalho, o mercado consumidor voltando, voltando com força”, disse ele, durante conversa com jornalistas, após a realização do seminário “Reconstrução de cidades e mudança climática: experiências internacionais e nacionais para o RS e o Brasil”, na sede do Banco, no Rio de Janeiro.
Na ocasião, Mercadante relembrou os erros de projeção do mercado de que o Brasil só iria crescer 0,8% no ano passado e que a inflação não teria controle, o que não aconteceu. “O PIB cresceu ano passado 2,9%. E aí o mercado disse que se surpreendeu. Se surpreendeu que a inflação caiu. Se surpreendeu com a taxa de emprego. Se surpreendeu com o mercado de trabalho. Então, eu acho que vai ficar surpreso de novo, porque os dados são muito fortes, muito consistentes”, explicou.
Questionado sobre a questão fiscal, o presidente do BNDES pontou que se trata de um desafio global que permeia as principais economias do mundo, como Estados Unidos, Japão e União Europeia. “As principais economias do mundo hoje têm (desafio fiscal). Por quê? Porque a transição climática, a descarbonização, esse esforço todo que nós estamos vendo, os desastres naturais estão exigindo dos estados nacionais muito mais esforço do que era feito antes”, pontuou.
Mercadante também apontou a mudança geopolítica para atrair investimento como desafio para os países. “Também o desacoplamento da China para atrair investimentos. Estados Unidos fez uma política de subsídio a indústria de US$ 686 bilhões, coisa que não tem precedente na história. A União Europeia também está fazendo. Então, são dois movimentos. A transição climática, a descarbonização da economia, da indústria, a transição energética, a transição digital, a inteligência artificial e todo o investimento para isso. E, de outro lado, essa mudança geopolítica atrair investimento com protecionismo e subsídio. Então, os estados nacionais estão muito pressionados e o Brasil também”, explicitou.
Juros – Questionado sobre a expectativa para a próxima reunião do Copom, o presidente do BNDES afirmou que não faz projeções, mas ponderou que é preciso haver uma mudança do atual modelo de juros. “Vamos aguardar a decisão e nós vamos continuar trabalhando para ter juros baixos, para a gente poder ganhar competitividade, que é o último fator que nós precisamos. Porque, com todas as melhoras macroeconômicas, nós temos a segunda taxa de juros real maior do planeta”, avaliou.
“Eu acho que nós não temos margem de manobra no curto prazo, no curtíssimo prazo, para alterar essa condição de ter a segunda maior taxa de juros real do planeta, mas não pode continuar assim. Então tem que se debruçar sobre esse tema e repensar o caminho da relação antipolítica monetária fiscal e o Brasil ter juros que sejam compatíveis com as taxas de juros internacionais, principalmente com os indicadores que nós estamos apresentando, que são muito fortes”, afirmou.
O ruído político, que esteve presente no início do governo, em 2023, voltou a crescer, mas “vai se acomodar, vai passar”, segundo Mercadante, que avalia o impacto da situação do Rio Grande do Sul na redução das consultas no último mês.
“Nós temos que analisar ainda o que acontece. Eu acho que, seguramente, o nosso foco hoje é o Rio Grande do Sul. Então, isso também alterou um pouco a dinâmica de tentar absorver. Nós suspendemos ali o pagamento de juros e principal para todas as empresas do Rio Grande do Sul. Só isso, a nossa carteira no Rio Grande do Sul, direta e indireta com bancos e cooperativas, era de R$ 38 bilhões. Isso também pode ter algum impacto, mas eu acho que volta.”