Metade da área queimada no Brasil em 2024 pegou fogo em agosto

Atualizado em 12 de setembro de 2024 às 22:00
Incêndio na Amazônia
Incêndio na Amazônia – Jader Souza/AL Roraima

Em agosto de 2024, o Brasil enfrentou um aumento drástico nas queimadas, dobrando a área afetada pelo fogo em relação ao início do ano. De acordo com o Monitor do Fogo, plataforma do MapBiomas, foram queimados 56.516 km² de território brasileiro somente no último mês. Para se ter uma ideia, essa área supera a de cinco estados brasileiros e é equivalente ao tamanho da Paraíba (56.467 km²). Com informações da Folha de S.Paulo.

Esse foi o pior agosto desde o início da série histórica da plataforma, em 2019. Com isso, a área total atingida pelo fogo no país em 2024 já alcança 113.960 km², mais que o dobro registrado nos primeiros oito meses de 2023, quando o número foi de 52.519 km².

Vegetação nativa é a mais afetada

Segundo Ane Alencar, coordenadora do MapBiomas Fogo e pesquisadora do Ipam (Instituto de Pesquisa da Amazônia), a maior parte das queimadas ocorreu em vegetação nativa, especialmente em áreas de cerrado e formações campestres. Essas regiões somaram 65% do total queimado em agosto. As áreas agropecuárias representaram cerca de 34% do total atingido, sendo 24.045 km² de pastagens.

Na Amazônia, o cenário é ainda mais preocupante. Cerca de 55% das queimadas em agosto ocorreram em áreas de pastagem, embora o índice normal fique entre 70% e 75%, segundo a especialista. Isso revela o uso contínuo do fogo para renovação de pasto, prática comum na região.

Estados mais atingidos e biomas sob pressão

Os estados que mais sofreram com as queimadas em agosto foram Mato Grosso (17.169 km²), Pará (9.194 km²) e Mato Grosso do Sul (6.282 km²). Um destaque foi o estado de São Paulo, que registrou 3.704 km² queimados, 86% do total para o ano de 2024. As áreas agropecuárias, principalmente de cana-de-açúcar, foram as mais afetadas, especialmente nos municípios de Ribeirão Preto, Sertãozinho e Pitangueiras.

Entre os biomas, o Cerrado foi o mais atingido, representando 43% da área queimada, seguido pela Amazônia (35%) e o Pantanal (11%).

Fogo consumiu hectares no Pantanal, bombeiros atuando
Brigada atuando no Pantanal – Marcelo Camargo/Agência Brasil

Perspectivas preocupantes para setembro

Apesar dos índices já alarmantes de agosto, as projeções para setembro são ainda mais preocupantes. Alencar alerta que o número de focos de calor aponta para um recorde. Somente entre 1º e 11 de setembro, o país já registrou quase 46 mil focos de queimadas, de acordo com dados do Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais).

A expectativa de chuvas que poderiam aliviar a seca está atrelada ao fenômeno La Niña, que, embora esperado, está demorando mais que o previsto. “Quanto mais estender essa época seca, mais vamos continuar nessa situação”, afirma a pesquisadora.

A necessidade de ações urgentes

A situação crítica exige medidas imediatas para conter o uso do fogo, principalmente na agropecuária. Alencar destaca que, apesar dos esforços do governo, é necessário interromper a prática de queimadas, especialmente por criminosos.

“A crise requer que as pessoas parem de usar o fogo nesse momento e os criminosos comecem a ir para a cadeia. O governo está usando todos os seus esforços para combater o fogo e, mesmo que queira combater todos os incêndios, não vai dar conta. É preciso cortar o mal pela raiz, que é o uso do fogo”, conclui.