Quando seu primogênito Josival* saiu do armário aos 14 anos contando que era bolsominion, Raquel* ficou chocada no início.
Mas, em vez de evitar o assunto, se desesperar ou, numa medida drástica, expulsar Josival do lar, ela e o marido escolheram acolher o rapaz e abrir um canal de diálogo.
“Tudo é muito novo para nós, mas temos certeza de que outros estão passando por isso”, diz ela.
A história da família de Raquel é um importante recado de como o amor, a compaixão, a inteligência e a união da família ajudam a superar qualquer obstáculo.
A confissão de seu filho a respeito de sua obsessão por Jair Bolsonaro foi uma surpresa?
Quando Josival convocou uma reunião familiar uma noite, eu sinceramente não tinha idéia do que ele ia fazer.
Nunca tinha me ocorrido que ele pudesse ser bolsominion. Quando essas palavras saíram de sua boca, eu realmente me senti como se tivesse o intestino perfurado.
Enquanto lutava para respirar, duas frases passaram pela minha cabeça: “Ele precisa saber que eu ainda o amo”, e “Deus opera de maneiras misteriosas”.
Repeti essas máximas para mim mesma. A dor de saber o que ele passando foi bastante devastadora.
Depois do choque inicial, como é que vocês lidam com o problema?
A primeira coisa que eu fiz no dia seguinte à confissão foi lembrar que bolsominions são também seres humanos. Depois de muita reflexão, estou apenas começando agora a ter uma compreensão maior do que isso significa.
Lembrei do que deve ter sentido José quando soube que Maria estava grávida. O anjo apareceu e lhe falou: “Não tenha medo.” Mesmo que seja difícil, eu sei que conseguiremos superar a dor, a vergonha e tudo o mais juntos.
Como seus amigos e familiares reagiram?
Eu sou tão grata a todos… Meus parentes tentam entender a posição de Josival e respeitá-la. Eu coloquei Josival numa terapia que, creio, tem sido muito útil para ele.
Eu e meu marido também estamos com um analista que que nos auxilia neste momento. Em nossas conversas sobre Josival, ele tem sido muito firme.
Virar bolsominion não é uma escolha fácil, como dizem.
Josival me fala: “Por que eu iria escolher uma coisa dessas, mamãe? Olhe a turma do Jair… Você acha que quero ser como eles?”
Se Deus quiser, ele vai sair dessa.
Como você reagiria se Josival quisesse se casar com outra bolsominion? E se eles quisessem procriar?
Bem, eu teria de aceitar, não é isso? O que posso fazer? Minha única preocupação é que ele seja feliz.
Além do mais, sei que, se ele tiver filhos, eles não serão necessariamente bolsominions… Isso, de certo modo, é um alivio, não?
A Bíblia diz: “As obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes”.
Pelo que me disseram, há muitos jovens como o meu filho por aí. Têm essa tendência, você nota até no jeito de andar, de falar, de ficar um bando de meninos juntos sem camisa… Não estamos sós.
Que conselho você daria para os pais de jovens bolsominions?
Acima de tudo, não importa o quão chateados nós estejamos, precisamos responder com amor, não raiva.
Josival compartilhou várias histórias horríveis sobre garotos como ele, obrigados a repetir como papagaios um monte de imbecilidades, tipo “bandido bom é bandido morto”, “se eu vir dois homens se beijando na rua, eu bato”, “vou comer gente” etc.
Mas os pais precisam lembrar que nós todos somos imperfeitos. Encontre um amigo ou amiga que tenha passado pelo mesmo drama e troque experiências.
Prefira lamentar-se ao invés de ficar com raiva. Ódio, violência e discussões só irão acrescentar confusão à cabeça do menino. Use sua energia para tentar entender o que você pode ter feito de errado, e não seus filhos.
Muito mais do que mudar Josival, estou concentrada em mudar a mim mesma. Uma dia ele se cura, se Deus quiser.
* Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados.