Por que novas técnicas de estudo das comunidades de micróbios de solo revelam motivos sérios de preocupação? Porque, se eles não se adaptam ao aquecimento global, vamos ter muitos problemas, como a produção de alimentos, por exemplo.
Uma visão mais próxima do problema ocorreu durante estudo de cientistas do Pacific Northwest National Laboratory, nos EUA. Em 1994, coletaram amostras de solo de locais úmidos e altos e os levaram para lugares mais quentes e secos, e vice versa. Voltaram aos locais em 2011 e examinaram mais uma vez os micróbios de solo.
O que descobriram foi que eles não tinham se adaptado muito para viverem em seus novos habitats. Um achado muito importante, em um mundo bagunçado pela mudança do clima.
“Estes micróbios de alguma forma perderam a capacidade de se adaptarem a novas condições”, diz Vanessa Bailey, um dos autores do estudo publicado este mês no PLOS One. Não era isso que os cientistas tinham previsto, o que coloca em questão “a resiliência de todo o meio ambiente em relação à mudança do clima. A comunidade microbiana é a base desta resiliência”.
Como já está acontecendo, a mudança do clima está provocando eventos extremos do tempo, caso de longas secas, e a incerteza quanto ao comportamento dos micróbios, segundo se revelou, é particularmente alta em ecossistemas secos, nos quais pequenas mudanças nas chuvas podem influenciar a atividade biológicas, com efeitos globais.
Conhecemos muito as dificuldades por que passam seres como ursos do Ártico e penguins da Antártica, mas é muito mais difícil entender o que acontece com o microbioma planetária em solo e água, com um quatrilhão de uma quatrilhão de organismos, estima a Scientitic American.
Micróbios movem o mundo. Perpetuam a vida na Terra, fornecem diversos serviços de ecossistemas e servem como proteção contra mudanças ambientais.
Parte destas funções podem ser perdidas com o aquecimento. Há mais: com o derretimento do permafrost (solo do Ártico) os micróbios estão transformando vegetação antes congeladas em gases de efeito estufa, com consequências assombrosas.
Quase 20 por cento da superfície terrestre é coberta por permafrost. Ele armazena tanto CO2 quanto o que existe nas plantas e atmosfera. Imagine o que aconteceria com a liberação disso tudo.
Complicado estudar este mundo de criaturas minúsculas. Em um grama de solo existem talvez um bilhão delas, com milhares de espécies diferentes. E cerca de 10 por cento delas são conhecidas. Esta é uma das razões da aceleração do estudo deste universo misterioso.
O esforço é global. Há um projeto chamado Projeto de Microbiomas da Terra, para coletar amostras de micróbios de todo o planeta, e ainda a Iniciativa Global de Biodiversidade do Solo, focada na preservação dos serviços de ecossistemas saudáveis, como por exemplo lugares onde a agricultura é viável.
No caso da agricultura, a capacidade de os micróbios fixarem o nitrogênio na terra, permitindo o crescimento de plantas, fica cada vez mais comprometida. A ciência corre para evitar o desastre. Como ocorre com tantas outras ameaças para a humanidade decorrentes de um estado de coisas que ela mesma criou, resta saber se teremos tempo.