Milei Levou porque a Argentina não tem um Nordeste brasileiro. Por Ricardo Miranda

Atualizado em 20 de novembro de 2023 às 15:22
Javier Milei. Foto: Alejandro Pagni/AFP

A maioria da Argentina elegeu e terá que suportar pelos próximos quatro anos o odor fascista do pigmeu de caráter e contorcionista de loucuras Javier Milei, o General Ancap, ultradireitista, reptiliano político, que vai cravar seu tridente na picanha de todos os hermanos, eleitores e opositores, pela inexistência, na geopolítica portenha, de um local de resistência política como o Nordeste brasileiro, que garantiu a vitória de Lula no ano passado.

Ao contrário da repulsa ao autoritarismo que vimos agora no Brasil, que tem importantes contornos geográficos, o peronismo de Sérgio Massa, da União pela Pátria, não teve contra o candidato da Aliança pela Liberdade, a barragem de contenção de uma ampla região menos privilegiada economicamente, mas politicamente engajada, como o Nordeste foi anti-Bolsonaro e pró-Lula, impedindo a volta ao poder do canalha negacionista, que hoje recebeu ligação do parça ultradireitista, e foi convidado para sua posse – saia justa para Lula.

Javier Milei foi eleito o novo presidente da Argentina neste domingo com 55,69% dos votos, contra 44,30% do candidato governista Massa. Uma diferença significativa, 11 pontos, acima do que mostravam institutos e sondagens. A leitura dos mapas, província por província, não deixa dúvidas. Massa não teve para onde correr. Milei venceu em 19 de 23 províncias e na capital Buenos Aires. Sergio Massa conteve-se com mais votos apenas em três províncias, com ampla margem apenas em uma delas, Santiago del Estero (68,4% x 31,5), que entra com apenas 638 mil votos. Nas outras duas, vitórias apertadas, como Formosa (56,5% x 43,4%).

A província de Buenos Aires – a mais populosa do país – é um caso à parte, por abrigar um terço da população nacional: 10 milhões de habitantes (Massa só chegou com força entre os 3 milhões da capital). A Província de Buenos Aires poderia ter sido o “Nordeste” de Massa, mas não foi, e o peronista ganhou por apertados 50,7% a 49,2%, “anulando” o “efeito Buenos Aires”. É que a região metropolitana de Buenos Aires também é uma das que mais sofre com pobreza e a hiperinflação do ministro Massa e seu governo — 41,4% dos moradores dessa categoria são hoje pobres. Já Milei deu surras impiedosas.

Em Córdoba, segundo maior colégio eleitoral da Argentina, atrás apenas de Buenos Aires, tradicional reduto peronista, Milei espancou Massa por 74 a 25,9%. Mendonza, com 1,1 milhão de votos, deu a Milei 71,1,% x 28,8%. E por aí vai.

Os votos em Javier Milei e Sergio Massa em cada distrito. Foto: Reprodução

Em 2018, no segundo turno, Jair Bolsonaro venceu em 15 estados e no Distrito Federal no 2º turno das eleições. Fernando Haddad (PT), em 11. Haddad teve o seu melhor desempenho no Nordeste, onde teve a maior parte dos votos em todos os estados e em 6 das 9 capitais. Mas nem o Nordeste salvou Haddad pela tremenda diferença de votos no Sudeste e resto do país.

Já no ano passado, Lula ganhou no segundo turno em 13 estados, enquanto o adversário Jair Bolsonaro (PL) venceu em 14, mas ganhou, especialmente, de lavada no Nordeste – 69,34% contra 30,66% –, que não só conteve Bolsonaro, com uma diferença brutal, mas fez a diferença para regiões mais populosas – única área em que Lula obteve mais votos que Bolsonaro. Minas Gerais também ajudou, com estreita vitória do petista. Ainda assim, Lula venceu o pleito, com apertados 50,90% dos votos.

Milei conseguiu seduzir, com seu canto de boto disforme, a pobreza a votar nele. Caso dos moradores da maior favela central de Buenos Aires, a Villa 21. Eles ouviram muitas promessas, na campanha de 2007, da presidenta Cristina Kirchner, mas nada mudou – e tudo piorou.

A inflação do país está na casa dos 140% anuais – a gente conhece uma versão ainda mais perversa disso, que botou Fernando Collor no poder na primeira eleição pós-didatura. Agora, o General Ancap chega fazendo promessas, vendendo sonhos, e contando mentiras – hoje disse que vai vai controlar a inflação em 18 a 24 meses, fechar o Banco Central e dolarizar a Argentina.

Para quem já viu Bolsonaro, a gente sabe que os argentinos podem esperar o pior. O canto autoritário voltou a ser ouvido no Cone Sul, Num coral de sereias de araque só querem as moedas dos marinheiros.

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