Milícia responsável por caos no Rio vive crise interna; entenda

Atualizado em 24 de outubro de 2023 às 6:52
Ônibus incendiado no Rio de Janeiro. Foto: Reprodução

A maior milícia do Rio de Janeiro, em meio a uma crise interna, demonstrou sua força ao paralisar a capital do estado em retaliação à morte de um de seus líderes na última segunda-feira (23).

Após a morte de Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão, considerado o número 2 na hierarquia da milícia liderada por seu tio, Luís Antônio da Silva Braga, também chamado de Zinho, seus cúmplices realizaram uma série de atentados incendiando 35 ônibus e um trem, causando perturbações significativas no transporte público em várias áreas da Zona Oeste do Rio.

Essa quadrilha, responsável pelos ataques recentes, atua no estado há mais de duas décadas, enfrentando uma guerra interna desde a morte de seu ex-líder, Wellington da Silva Braga, conhecido como Ecko, também morto em confronto com a polícia em 2021. A milícia está atualmente fragmentada, e enfrenta uma ofensiva da maior facção de tráfico de drogas do Rio, que busca retomar territórios perdidos nos últimos anos.

Os ataques de incêndio aos ônibus ocorreram em áreas atualmente controladas pela milícia, como Santa Cruz, Inhoaíba e Campo Grande, ou em regiões que antes estavam sob seu domínio e agora estão em disputa, como o Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá.

Nessas áreas, os índices de mortes violentas aumentaram consideravelmente neste ano, ao passo que no estado como um todo, a violência letal diminuiu. Em Santa Cruz, apontada como o quartel-general da milícia, os homicídios aumentaram em 83% este ano, e a milícia arrecada até R$ 10 milhões por mês na região. Em Jacarepaguá, onde a milícia perdeu terreno para traficantes, os assassinatos cresceram 156%.

Ataques a ônibus: quem é Faustão, sobrinho de miliciano morto no Rio | Metrópoles
Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão. Foto: reprodução

A crise na milícia começou com a disputa pelo controle do grupo após a morte de Ecko. Além de Zinho, que exercia uma função semelhante a um “gerente de finanças”, outro membro, Danilo Dias Lima, conhecido como Tandera, começou a reivindicar o comando da organização.

Com a divisão da quadrilha, Zinho assumiu a Zona Oeste, enquanto Tandera ficou com Nova Iguaçu e Seropédica. No entanto, Tandera perdeu o apoio de seus aliados no ano passado, especialmente após a morte de seu irmão, Delson Lima Neto, e novos líderes emergiram: Tauã de Oliveira Francisco em Seropédica e Gilson Ignácio de Souza em Nova Iguaçu.

Atualmente, Alan Ribeiro Soares busca estabelecer controle na Zona Oeste do Rio, uma área dominada por Zinho. Todos os líderes atuais eram aliados de Ecko, mas nenhum deles tem histórico como policial ou membro de forças de segurança.

A história da milícia tem raízes nas primeiras décadas dos anos 2000, quando a organização conhecida como Liga da Justiça foi formada por policiais locais, liderados por Jerônimo Guimarães Filho e Natalino José Guimarães, inspetores da Polícia Civil e líderes comunitários. Posteriormente, a liderança da milícia passou por várias mudanças, com uma disputa interna pelo poder após a prisão de vários líderes policiais.

Em 2014, com a prisão de Gão, a milícia sofreu transformações significativas, abrindo espaço para líderes não ligados à polícia. Carlos Alexandre da Silva Braga, também conhecido como Carlinhos Três Pontes, irmão de Ecko, assumiu a liderança da milícia.

Carlinhos era um ex-traficante que se uniu ao grupo após a expansão da milícia pela Zona Oeste e a conversão de traficantes locais em seus aliados. Ele foi assassinado em 2017, mas a milícia permaneceu sob controle da família.

Ecko sucedeu seu irmão, consolidando o poder e transformando a milícia, permitindo até o envolvimento no tráfico de drogas. No entanto, Ele também foi morto em 2021, e a liderança da milícia permanece volátil. As informações foram divulgadas pelo jornal O Globo.

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