Em conversa com o governador do Acre, o ministro Luiz Henrique Mandetta desautorizou Jair Bolsonaro em relação às diretrizes da política para combater o coronavírus.
Quem conta é Gladson Cameli, governador do Estado, em uma conversa que teve ontem com assessores.
O áudio da conversa foi divulgado hoje pela assessoria do governador.
“O que é que se vê? Uma politização. As pessoas querendo que vá para rua, inclusive o nosso presidente da república, que eu, na sexta-feira, peguei o telefone e pedi uma audiência com ele. Eu ia chegar e dizer: ‘Presidente, tudo bem então. Eu vou seguir a sua orientação. Se é para abrir, vamos abrir, mas está aqui: Eu não tenho condições de arcar com as consequências. Eu ia. Por que o que é que eu vou fazer? Eu estou seguindo uma lógica, e aí ele vem. Foi quando eu liguei para o ministro da Saúde e ele disse: ‘Não faça isso'”.
Você pode conferir na gravação abaixo.
A declaração do governador do Acre, que é do Partido Progressista, reflete o desgoverno que existe hoje no Brasil.
Cameli está preocupado com as consequências para o estado, não só econômicas, porque ele sabe, inclusive pelo serviço de inteligência do Ministério da Saúde, que a pandemia é grave.
O próprio ministro da Saúde teria dito ao governador para avisar os donos das funerárias e mandar que eles se preparem. Isso com medidas de proteção, como o isolamento social.
Imagine-se se for atendida a recomendação da Organização Mundial de Saúde.
“Se o ministro me disse isso, eu vou fazer o quê? Eu vou dizer que o negócio é simples? Eu vou ser irresponsável? Não vou. Ele não é doido”, comentou.
“Tudo o que tiver que fazer eu estou pronto para fazer. Agora sozinho ninguém ganha. Esqueçam política”, disse ainda.
Gladson Camelli destacou também diz que, se alguém optou pela reação política diante do coronavírus, que vá cuidar da política. É uma referência indireta a Bolsonaro.
“Eu vou cuidar da minha obrigação de governar. Vamos pensar nas pessoas, no povo. Nas pessoas que já têm uma idade avançada, e nas nossas crianças”, disse.
Gladson Camelli foi deputado e senador antes de se eleger governador. É sobrinho de Orleir Cameli, que governava o Acre quando estourou o escândalo da compra de votos pela aprovação da emenda da reeleição. Seu nome foi citado como intermediário na compra do voto de pelo menos um deputado.
Gladson também votou pelo impeachment de Dilma, com direito a fazer discurso.
Nesta época de crise, porém, comparado a Bolsonaro, o governador do Acre parece um estadista.
Responsável pela gestão do seu Estado, Gladson fez uma opção, a opção certa quando se tem no horizonte o interesse público: não seguir Bolsonaro.
Quando a Mandetta, se ele seguir Bolsonaro ou endossar as suas palavras, corre o risco de responder no Conselho Federal de Medicina por violar protocolo de saúde pública.