Li a biografia de Roberto Civita por Carlos Maranhão, algumas semanas atrás.
Li também, mais recentemente, a resposta de Mino na Carta Capital à “hagiografia” de Roberto feita por Maranhão. (A expressão é de Mino.)
Mino estava furioso com o livro pelo motivo de sempre: sua saída da Veja. (Não apenas isso, mas principalmente por isso.)
Mino sustenta que se demitiu. Roberto Civita dizia que mandara embora Mino, e é assim que a história é contada no livro de Maranhão.
Apenas para resgistro: se eu tivesse que apostar numa das versões, ficaria com a de Mino, ainda que sua saída fosse inevitável de um jeito ou de outro. A relação entre Roberto e Mino se deteriorara a tal ponto que os dois não cabiam mais na Abril.
Mino chamara Roberto de cretino numa discussão com Victor Civita. Mais que isso — chamar o primogênito do dono de cretino — só batendo fisicamente, o que quase aconteceu.
Mas de novo. A saída de Mino foi o que menos me impressionou ao ler o livro de Maranhão e a resposta de Mino.
O que me chamou mesmo a atenção foi outra coisa. Eu nunca reparara no papel que tivera no episódio a promiscuidade entre o governo federal e as grandes empresas jornalísticas.
A Abril pedira um empréstimo gigante ao governo na época do conflito entre Mino e Roberto.
O governo não gostava de Mino. Estava claro que as chances de o empréstimo ser liberado eram grandes caso Mino deixasse a Veja e mínimas, ou nulas, se ele permanecesse.
Vamos entender: “empréstimo” do governo para a mídia era força de expressão. O negócio parecia mais doação do que qualquer outra coisa.
Isso quer dizer o seguinte: se o governo gostasse de Mino ele provavelmente estivesse na Veja até hoje. Victor Civita teria encontrado uma forma de afastar o filho Roberto.
Eis uma coisa que jamais me ocorrera.
Na prática, o episódio é uma amostra de como o governo comprou a mídia há muito tempo ao controlar mamatas e privilégios como empréstimos e multimilionárias verbas publicitárias.
Assim se construíram as fabulosas fortunas dos barões da imprensa — e uma das piores mídias do mundo.