Mino, Roberto Civita e as relações promíscuas entre as empresas jornalísticas e o governo. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 14 de janeiro de 2017 às 15:43
Mino e RC antes do tufão
Mino e RC antes do tufão

Li a biografia de Roberto Civita por Carlos Maranhão, algumas semanas atrás.

Li também, mais recentemente, a resposta de Mino na Carta Capital à “hagiografia” de Roberto feita por Maranhão. (A expressão é de Mino.)

Mino estava furioso com o livro pelo motivo de sempre: sua saída da Veja. (Não apenas isso, mas principalmente por isso.)

Mino sustenta que se demitiu. Roberto Civita dizia que mandara embora Mino, e é assim que a história é contada no livro de Maranhão.

Apenas para resgistro: se eu tivesse que apostar numa das versões, ficaria com a de Mino, ainda que sua saída fosse inevitável de um jeito ou de outro. A relação entre Roberto e Mino se deteriorara a tal ponto que os dois não cabiam mais na Abril.

Mino chamara Roberto de cretino numa discussão com Victor Civita. Mais que isso — chamar o primogênito do dono de cretino — só batendo fisicamente, o que quase aconteceu.

Mas de novo. A saída de Mino foi o que menos me impressionou ao ler o livro de Maranhão e a resposta de Mino.

O que me chamou mesmo a atenção foi outra coisa. Eu nunca reparara no papel que tivera no episódio a promiscuidade entre o governo federal e as grandes empresas jornalísticas.

A Abril pedira um empréstimo gigante ao governo na época do conflito entre Mino e Roberto.

O governo não gostava de Mino. Estava claro que as chances de o empréstimo ser liberado eram grandes caso Mino deixasse a Veja e mínimas, ou nulas, se ele permanecesse.

Vamos entender: “empréstimo” do governo para a mídia era força de expressão. O negócio parecia mais doação do que qualquer outra coisa.

Isso quer dizer o seguinte: se o governo gostasse de Mino ele provavelmente estivesse na Veja até hoje. Victor Civita teria encontrado uma forma de afastar o filho Roberto.

Eis uma coisa que jamais me ocorrera.

Na prática, o episódio é uma amostra de como o governo comprou a mídia há muito tempo ao controlar mamatas e privilégios como empréstimos e multimilionárias verbas publicitárias.

Assim se construíram as fabulosas fortunas dos barões da imprensa — e uma das piores mídias do mundo.