Publicado originalmente no Tijolaço
POR FERNANDO BRITO, jornalista e editor do blog Tijolaço
O triste espetáculo de Míriam Leitão, repetindo, tatibitati, a nota da Rede Globo, ao final (espichado) da entrevista de Jair Bolsonaro foi um dos mais deprimentes episódios da TV dos tempos recentes.
Não precisaria ter sido, porque Miriam tem traquejo, experiência e autoridade dentro da emissora suficiente para que pudesse resolver a situação.
Pedir um “brake”, pedir a nota por escrito e ler, com o texto na mão, deixando claro que era um editorial e não gaguejando, com olhos de vidro, num humilhante “jogral”. Um robô, nitidamente.
Deprimente, mas dentro do limite flácido da dignidade de quem já aceitou reproduzir a voz do dono da emissora, informalmente, mas que, como profissional, deveria saber colocar o tom que até mesmo um Cid Moreira – que não era jornalista, mas apenas locutor – se obrigava a fazer.
E o fez em momentos certamente terríveis, para ele, como o do direito de resposta concedido a Leonel Brizola no Jornal Nacional.
Ao contrário de nós, que fomos “bagrinhos” nas empresas Globo, Miriam não seria demitida sumariamente.
Nem toquei no assunto, aqui, porque os leitores deste site já têm perfeita consciência de quem é Miriam Leitão, que aceita, como já fez de outras vezes, ser ofendida por aqueles a quem serve, como no episódio quem que recebeu um “que bobagem, Míriam” – aliás, com razão – de José Serra, na campanha de 2010.
Míriam mostrou, porém, os limites de sua valentia verbal.
Ao ponto de ser “zoada” por ninguém menos que William Waack, 21 anos de Globo, antes de ser “afastado” pelo notório “coisa de preto” dito fora do ar.
Coisa de gente sem caráter promover-se dizendo que não fala as coisas porque o “chefe está no ponto”, referindo-se ao fone de ouvido do apresentador e, pior ainda, imitando o gaguejar da ex-colega.
O comportamento de Miriam foi deprimente, vergonhoso. O de Waak, abjeto. Mas não se pode esquecer, nunca, que menos perdoável que o papel do humilhado é o de quem humilha.
Dias depois de ter baixado o AI-5 em que diz como os seus empregados devem se portar, em matéria de política, abstendo-se de terem opiniões e simpatias, a Globo fez uma errata, ao vivo, neste episódio.
Eles não só podem como devem ter, e têm, uma opinião: a dos seus patrões.