Em entrevista ao Estadão, o deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro contou que vai lutar para tipificar como terrorismo os atos do MST.
“Se for necessário prender 100 mil, qual o problema?”, questionou o filho de Jair, que deseja transformar o comunismo em crime.
“É uma proposta que eu gostaria que fosse adiante, mas que depende de renovação do Congresso”, falou.
“É seguir o exemplo de países democráticos, como a Polônia, que já sofreu na pele o que é o comunismo. Outros países também proibiram, como a Indonésia”.
O exemplo da Indonésia, citado por Eduardo, é ilustrativo de sua mentalidade.
Entre 1965 e 1966, o Exército acusou o Partido Comunista de estar por trás do assassinato de generais e perseguiu todas as pessoas suspeitas de pertencer ou simpatizar com a organização.
A onda de repressão resultou na morte de mais de meio milhão.
O massacre foi considerado pelo Tribunal Popular Internacional de Haia, 50 anos depois, como um dos maiores genocídios do século 20, crime contra a humanidade.
Parte dessa história está contada em uma dos melhores documentários políticos já produzidos: “O Ato de Matar”.
Está na Netflix. Concorreu ao Oscar e perdeu injustamente, mas já havia faturado outros 35 prêmios internacionais de renome.
Werner Herzog, o cineasta alemão, documentarista de gênio, afirmou que é o filme mais surreal a assustador que ele já viu em uma década.
O diretor dinamarquês Joshua Oppenheimer acompanha Anwar Congo, herói nacional, avô, velhinho de anedota e chefe de um antigo esquadrão da morte.
Após o golpe em que o general Suharto destituiu o populista Sukarno, milícias de extrema-direita se dedicaram a perseguir adversários.
O morticínio se espalhou da capital Jakarta até Bali e a ilha de Java. Crianças, mulheres, idosos — ninguém foi poupado.
Os assassinos nunca foram julgados. Aos poucos, foram absorvidos pelos sucessivos governos. O grupo paramilitar Pemuda Pancasila continua na ativa, promovendo festas com a participação de autoridades. Os livros tratam os justiceiros com carinho.
Openheimer fez um filme dentro do filme. A certa altura, ele sugere a Anwar que faça uma reencenação de suas execuções.
Anwar, como seus comparsas, é fã do cinema americano (eles eram chamados de gangsters, apelido que transformaram, numa tradução oportunista, em “homens livres”). Foi em Hollywood que Anwar se inspirou para aprender a estrangular comunistas com fios de arame.
Ele topa o desafio do diretor. O resultado é uma extravagância visual digna de um Cecil B. De Mille pervertido, com cenas no “paraíso” em que vítimas encontram algozes em meio a anjos coloridos, atrás de cachoeiras.
Tem-se a impressão de que Anwar adquiriu algo parecido com arrependimento. O simpático ancião precisa de música, dança, bebida e maconha para expiar seus pecados.
Um antigo colega o admoesta: “Você está assim porque sua mente é fraca. Isso tudo é apenas um desequilíbrio nervoso”. Os assassinos jogam golfe e se divertem. Um deles quer que suas memórias também sejam dramatizadas. Ele era criança quando um homem foi arrastado da cama às 3 da manhã.
A mulher e os filhos gritavam, desesperados. No dia seguinte, o sujeito foi encontrado ao lado de um barril.
A família o enterrou na estrada “como uma cabra”. O homem, ele admite, era seu padrasto. Seu relato não serve para o filme, dizem Anwar e seus colegas da repressão, porque faltava emoção.
“O Ato de Matar” foi proibido pelas autoridades locais. Consagrado mundialmente, acabou banido. “Isto não é apropriado, é sem cabimento. Deve ser lembrado que a Indonésia passou por uma reforma. Muitas coisas mudaram. A percepção das pessoas não devia ser tão influenciada por apenas um filme”, declarou um porta-voz do governo.
Oppenheimer foi acusado de trair a amizade dos personagens.
“Quando essa comunidade de sobreviventes me deu autorização para filmar suas justificativas e suas bravatas, eu estava tentando expor a natureza da impunidade”, afirmou.
Esse é o sonho de Eduardo Bolsonaro para o Brasil.