O editorial do Estadão de segunda, dia 19, merece ser enquadrado na parede ao menos por alguns segundos como um monumento à hipocrisia nacional e ao anti jornalismo — antes de ser jogado fora com a areia suja da caminha de seu gato.
Vou destacar alguns trechos. Confira comigo no replay:
O vazamento a conta-gotas do conteúdo das delações de executivos da Odebrecht, acerca de pagamentos feitos a mais de uma centena de políticos de vários partidos, só se presta a acelerar a desmoralização do Congresso. É preciso uma boa dose de ingenuidade para não ver aí uma ação deliberada, com vista a emparedar o mundo político, intimidando aqueles que porventura questionem promotores e magistrados, seja por seus salários e benefícios, seja por sua atitude messiânica.
A imprensa, é claro, tem o dever de publicar o que apura, ainda mais quando se trata de tema tão explosivo. Mas a ânsia de levar bombásticas informações ao público não deve se sobrepor à obrigação ética que tem o jornalista de cuidar para que essas mesmas informações sejam devidamente depuradas. Toda e qualquer informação deve ser bem apurada. Mas o material que está vindo à tona nos últimos tempos é relevante demais – pelos efeitos que produz nas vidas das pessoas e da Nação – para que mereça não mais que os cuidados de praxe.
(…)
O trabalho jornalístico em geral, mas especialmente em momentos críticos como este, deve ser pautado pelo mais absoluto respeito aos fatos, aos quais só se chega após exaustiva apuração, sem açodamento. A imprensa não pode se prestar a ser mero veículo de interesses de terceiros, pois sua função primordial é fornecer à sociedade as informações necessárias para que esta se proteja de quem pretende se aproveitar de suas fragilidades. O jornalismo de qualidade – feito de independência, sensatez e inteligência, capaz de separar o joio do trigo – é o único antídoto realmente eficaz contra o envenenamento da democracia. Ainda mais quando o veneno vem sob a forma de poção regeneradora da moral social.
O jornalista Fausto Macedo é um dos quadros mais prestigiados no jornal. Desde o início da Lava Jato, Fausto já publicou dezenas de vazamentos.
Num determinado período, era um por dia — desnecessário dizer que sempre contra a “tigrada petista”.
Nunca tinha havido qualquer sinal de preocupação dos Mesquitas com o fato do veículo se prestar a “interesses de terceiros” porque os terceiros eram eles mesmos, os primeiros. Agora que a situação ficou fora de controle perdeu a graça.
Para ficar num exemplo dessa rotina: em janeiro, dia 31, o Estado saiu com uma denúncia de um lobista que “indica ligação” com Lula como facilitador de negócio.
Como anotou Paulo Henrique Amorim, duas páginas adiante, outra: “Silvinho recebia ‘cala a boca’, diz delator”.
No sábado, uma notícia sobre a intimação de Lula e da mulher, Marisa Letícia, para depor no Ministério Público de São Paulo.
No último dia 15, a defesa de Lula denunciou Sérgio Moro junto ao Conselho Nacional de Justiça por um vazamento a partir da 13ª Vara Federal, em Curitiba, de ação por danos morais movida contra um delegado da Lava Jato, em caráter sigiloso.
Moro teria cometido duas infrações: primeiro, usou um despacho para emitir opinião e fazer juízo de valor contra a defesa de Lula. Depois, vazou ou deixou vazar o documento.
Para quem foi?
Você ganhou um sorvete de Gilmar Mendes se apostou no Estadão.