Moradores estão sem água potável e luz desde os primeiros dias de cheias no RS

Atualizado em 25 de maio de 2024 às 7:24
Pessoas afetadas pelas enchentes coletam água em Alvorada, no Rio Grande do Sul. Foto: Nelson Almeida/AFP

Com as novas chuvas que começaram na última sexta-feira (24) em Porto Alegre, os moradores enfrentam um risco contínuo de mais enchentes, que comprometem o acesso à água potável e aumentam a possibilidade de contaminação por bactérias. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o chefe da equipe de vigilância de saúde ambiental e água da cidade, Alex Lamas, diz que o uso de água não potável, como a de bicas ou coletada da chuva, pode resultar em contaminações graves por bactérias, vírus e protozoários.

Na Rua dos Andradas, uma das mais antigas da cidade, moradores estão sem eletricidade e abastecimento de água há 23 dias. Sonaly Silvestrini, comerciante que mora no nono andar de um edifício nesta rua, está sem luz desde o dia 1º de maio. A caixa d’água do prédio esvaziou no dia 3, e desde então, ela desce 169 degraus para encher galões de água. “Com 57 anos e fibromialgia, não consigo fazer isso sempre. Contamos com a solidariedade dos vizinhos, que trazem água para nós”, disse Silvestrini.

Das 45 famílias do edifício, apenas três permaneceram durante os últimos 23 dias. Proprietária de um brechó, Silvestrini afirma que a loja é sua única fonte de renda. “Nossa esperança é voltar a trabalhar. Eu não tenho outra opção, tenho que lutar, mas estamos no limite”, desabafou.

No mesmo quarteirão, o escritor Antonio Padeiro, que vive com seu cachorro Chico, também está sem luz e água. Ele ficou ilhado por vários dias, temendo se contaminar com as águas da enchente. Atualmente, ele conta com a ajuda de ações sociais para receber água e alimentos. “O breu é perturbador, especialmente para os idosos que não têm quem os ajude a sair de casa”, contou Padeiro.

Lamas alertou para os riscos de contato com águas contaminadas: “Os sintomas incluem irritação na pele, gastroenterite e vômitos. A água deve ser usada para o vaso sanitário ou regar plantas, mas para ingestão e preparo de alimentos, deve-se usar água tratada ou engarrafada”.

Ele também destacou o risco de leptospirose, uma doença comum em áreas inundadas onde a água se mistura com esgoto: “Recomendamos o uso de luvas e botas ao entrar em contato com essas águas. Qualquer contato prolongado ou com feridas aumenta as chances de contrair a doença”.

Bairros de Porto Alegre ainda estão alagados. Foto: reprodução

Porto Alegre já registrou uma morte por leptospirose desde o início das inundações, enquanto no Rio Grande do Sul, quatro óbitos foram confirmados.

A CEEE Equatorial, responsável pelo fornecimento de eletricidade na capital gaúcha, informou que desligamentos por segurança são necessários devido aos alagamentos. “Estamos presentes nos Comitês de Crise do Estado e do Município, operando 24 horas por dia para minimizar riscos e restabelecer a energia com a máxima agilidade e segurança”, afirmou a empresa em nota.

Moradora de Canoas, Vanerise Chaves Ferreira relatou que o abastecimento de água começou a sofrer interrupções em 2 de maio. “Tinha água por um dia e faltava nos três seguintes. Precisávamos ferver água da piscina do condomínio para lavar louça e usávamos água mineral para cozinhar”, disse Vanerise. A escassez de água mineral forçou a família a buscar alternativas a 120 km de distância, em Tramandaí.

Dona de uma pizzaria, Ela tentou ajudar os desabrigados preparando alimentos simples como sanduíches. “Nossa pizzaria sofreu com os mesmos problemas de água e energia”, relatou.

A Corsan, empresa de abastecimento de água, declarou que “recuperou a operação de todos os 67 sistemas severamente danificados pelas cheias na região metropolitana”.

A última estação a ter o serviço restabelecido foi a ETA Rio Branco, em Canoas, na terça-feira (21). No entanto, nem todas as residências receberam água de imediato. “A água produzida está sendo levada aos reservatórios e chegará gradativamente às residências nos próximos dias”, afirmou a Corsan.

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