Em uma reportagem em vídeo no seu programa System Update, o jornalista bolsonarista Glenn Greenwald diz que “revela detalhes chocantes de uma ação judicial do Ministro Alexandre de Moraes”. A mesma informação foi dada pelo Estado de S.Paulo há um ano e quatro meses.
Glenn lembra que o ministro do Supremo Tribunal Federal derrubou contas em várias plataformas, incluindo Twitter, Facebook, Instagram e Rumble. Segundo ele, essas ações foram “sem justificativa prévia” e isso “ameaça os direitos fundamentais de liberdade de expressão no Brasil”.
A mesma informação foi publicada pelo Estadão em janeiro de 2023, no começo do governo Lula. Na época, o jornal lembrou que, além do deputado Nikolas Ferreira e da YouTuber Barbara “Te Atualizei” Destefani, o produtor de conteúdo Monark foi protegido pela plataforma Rumble. A plataforma desobedeceu a ordem judicial de Moraes.
Bruno “Monark” Aiub fez parte da primeira iniciativa de expansão da rede no Brasil, quando a empresa firmou, em março de 2022, contrato de exclusividade com ele e com o influenciador de esquerda Reginaldo Ferreira da Silva, o Ferréz, para publicar vídeos no site.
A negociação de Monark com o Rumble foi intermediada por Glenn Greenwald, que também teve um canal na plataforma. Após essas decisões do STF, a plataforma deixou o Brasil. E Glenn passou a incorporar ataques da extrema direita em suas críticas ao Supremo, mesmo após os ataques terroristas de 8 de janeiro de 2023.
Na Folha, Glenn ataca o PT, a esquerda e é rebatido por Reinaldo Azevedo
Dois dias depois da reportagem “exclusiva” no System Update, seu canal no YouTube em inglês e em português, Glenn Greenwald volta a replicar esses argumentos da extrema direita contra Moraes. Ele diz:
“Em 2017, a conta oficial do PT publicou: ‘Na avaliação do petista [Wadih Damous], além de despreparado, Moraes é também ‘fascista e mentiroso”. As acusações continuaram em 2018, quando Moraes, por exemplo, votou contra o habeas corpus preventivo pedido por Lula.
Moraes exerce seus amplos poderes sem nenhuma base legal. Os defensores da censura tentaram repetidamente aprovar o PL das Fake News. Tendo falhado no Congresso, preferiram que o STF entregasse o poder a Moraes. Como descreveu este jornal em editorial [a própria Folha de S.Paulo] comemorando a não aprovação do PL, o texto era movido por ‘um ímpeto censório’ e Moraes ‘tem cometido não poucos abusos ao retirar contas de usuários do ar'”.
Glenn agrada a Folha de S.Paulo, a extrema direita e o bilionário Elon Musk, que está engajado na campanha por Donald Trump para tirar os democratas da presidência dos EUA – algo que o jornalista também quer. Reinaldo Azevedo deu uma resposta adequada em sua conta no X, o antigo Twitter.
Reinaldo escreveu o seguinte:
“Quando o bolsonarismo tentou chutá-lo do Brasil — numa mistura de autoritarismo, ilegalidade, xenofobia e homofobia —, Glenn recebeu o apoio unânime das esquerdas, que ele agora ataca. Parece um empate de contradições, mas não é. Explico: 1: a esquerda era, sim, hostil a Alexandre e hoje apoia muitas de suas decisões pq ele enfrenta os neofascistas; 2: Glenn, antes apoiado pelas esquerdas contra as ameaças neofascistas, hoje está em campo oposto e alinha suas posições com os que queriam expulsá-lo ou prendê-lo.
Como se nota, nos dois casos, há, na verdade, coerência dos progressistas. Quem precisa explicar suas novas e más companhias é Glenn, não a esquerda. A propósito: Glenn revela uma alma, digamos, algo colonialista em relação ao Brasil: toma as leis de seu país de origem como universais. E, também no seu caso, é uma sorte que não seja”.