Depois de contribuir decisivamente para desestabilizar a democracia no Brasil, que jogou a economia no abismo e tornou a vida dos mais pobres um inferno, o juiz Sergio Moro iniciou pelo México uma campanha para danificar ainda mais a imagem das empresas brasileiras.
É o que se pode concluir a partir da manchete do jornal El Universal: “Empresas brasileñas pagaron ‘propinas’ em México: juez Sergio Moro”.
No México, quase ninguém sabe quem é Moro, mas o jornal trata de apresentá-lo como o juiz que condenou à prisão Lula, uma das lideranças políticas mais conhecidas do mundo.
O escritor Tom Wolfe, autor de A Fogueira das Vaidades, escreveu que há duas maneiras de fazer sucesso na vida: pode-se construir uma reputação ou destruir outra.
Moro, pelo que se vê, trilhou o segundo caminho. E o faz com desenvoltura, indo muito além dos limites que se impõem a um juiz de primeira instância.
O jornal registra que Moro, na condição de juiz que condenou Lula à prisão, ofereceu cooperação da justiça brasileira para o México obter provas de corrupção praticada por empresas brasileiras lá.
Moro, como juiz de primeira instância, não tem autoridade para estabelecer cooperação da justiça brasileira, o que caberia ao Ministério das Relações Exteriores e ao Ministério da Justiça.
Mas, para Moro, limites só existem para os outros.
Ele recebe auxílio-moradia mesmo tendo imóvel na cidade em que reside e diz que tudo bem, “é compensação” por não ter reajuste nos vencimentos.
Vencimentos que, aliás, quase sempre ultrapassam o teto constitucional.
Mas teto constitucional é para os outros, não para gente como ele.
Moro pode tudo.
Pode dizer, em solo mexicano, que a Petrobras, outrora orgulho nacional, fruto de uma luta cívica de décadas, foi um antro de corrupção.
“O juiz destacou que no Brasil o esquema criminal era tão terrível que, em 2015, Petrobras, a petroleira estatal, reconheceu em seu balanço perdas contáveis que ultrapassaram dois bilhões de dólares, devido ao pagamento de propinas”, registrou o jornal.
As declarações de Moro foram feitas numa visita que fez ao Senado do México, numa viagem a convite da ONG Mexicanos contra a Corrupção e Impunidade (MCCI).
Imagine-se uma situação em que um juiz dos Estados Unidos visse ao Brasil, a convite de uma ONG brasileira, para dizer que as empresas americanas são muito corruptas — e, fora do solo americano, são — e oferecesse provas para o Brasil processá-las.
O que aconteceria com ele quando voltasse aos Estados Unidos?
Moro consegue palco no Brasil e fora do Brasil porque há uma mão ainda não visível que lhe abre as portas de organizações como esta MCCI do México.
Em seu site, MMCI se define como “uma associação civil sem fins lucrativos, comprometida com a consolidação do Estado de Direito no México através de uma agenda integral dedicada a prevenir, denunciar, sancionar e erradicar a corrupção e impunidade sistêmicas que prevalecem nos sistemas público e privado do nosso país”.
O site publica reportagens com denúncias de corrupção. A Odebrecht aparece em várias delas.
Mas, para uma entidade que cobra transparência dos outros, falta algo muito importante em seu site: Quem a financia?
Moro foi com a mulher para essa viagem ao México e alguém deve ter bancado o voo e a estadia do casal lá, sem contar o cachê que juiz costuma cobrar por suas palestras.
Alguém pagou essa conta, mas a MCCI não informa.
Para a entidade, no entanto, nem tudo saiu como ela certamente planejou.
Houve protesto.
Durante uma palestra no Colégio Nacional, para estudantes de direito, um grupo se levantou para dizer que Moro é golpista e um juiz imoral, por sua parcialidade.
E recomendavam que se buscasse na internet descobrir quem é Moro. No DCM e no GGN, há uma série sobre a indústria da delação premiada.
No momento do protesto, as imagens mostram rapidamente o juiz, que baixa o microfone enquanto um colega vem em seu socorro. Como em outras ocasiões em que é confrontado, Moro fez cara de paisagem.
Ele não costuma responder nessas situações. Não esboça reação, não passa recibo.
Na sequência do vídeo disponível na internet, entretanto, são mostradas imagens da palestra de Moro. Chama a atenção como ele pisca muito. Estaria nervoso com o protesto?
Para o bem do Brasil, essas situações constrangedoras no Exterior têm se tornado frequentes.
Em dezembro, alunos da Universidade de Coimbra, em Portugal, picharam os muros da instituição durante um seminário sobre o combate à corrupção que teve a participação dele.
“A Justiça é cega para os crimes de Sergio Moro” e “Vândalo é o Sergio Moro”.
No Brasil, Moro deixou de ser um herói faz tempo.
Sua mulher encerrou as contas de rede social que destinavam a idolatrá-lo, tantas eram as críticas que recebia.
A máscara dele já caiu por aqui, embora ainda haja brasileiros que o defenda. Em geral, brasileiros em condições de viver confortavelmente em Portugal ou em outro país civilizado.
Sem o mesmo ambiente de antes por aqui, Moro, incentivado ou não, encontrou outros públicos.
No México, por exemplo.
Mas logo alguns bravos cidadãos — poucos, é verdade — trataram de lembrar a todos que ele “golpista e imoral”.
A máscara de Moro também está caindo fora daqui, embora Moro, no Exterior, só faça sentido se levar junto a imagem de Lula.
Sem ela, Moro não é nada além de um cavaleiro da desesperança.