POR DANIEL CÉSAR E NAIAN LUCAS LOPES
Durante a corrida eleitoral, Sergio Moro pode ter que prestar explicações sobre conversas do passado. Em 2005, o advogado Roberto Bertholdo foi preso em Curitiba acusado de grampear clandestinamente os telefones do ex-juiz da Lava Jato. As escutas telefônicas tinham como objetivo ter informações privilegiadas sobre processos de seus clientes.
De lá pra cá, muita coisa aconteceu. Moro ficou conhecido por se tornar parcial contra Lula. Depois de tirar o líder das pesquisas das eleições de 2018, tornou-se ministro da Justiça de Bolsonaro, em 2019. Agora Sergio é pré-candidato à Presidência pelo Podemos. Uniu-se ao senador Alvaro Dias, Deltan Dallagnol e ao MBL. Todos que estiveram com o bolsonarismo na última eleição presidencial. E sua principal plataforma é o “combate à corrupção”.
Acontece que todo o plano de ser presidente pode ir por água abaixo e não apenas pelas pesquisas. Os grampos feitos em 2005 podem vir à tona a qualquer momento e complicariam muito Moro. Segundo a classe política, isso pode enterrar a carreira dele como candidato.
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As conversas de Moro
Conforme apurou o DCM, as conversas grampeadas pelo advogado Roberto Bertholdo devem vazar em breve. Os diálogos foram captados em 2005, quando Moro era titular da 2ª Vara Criminal de Curitiba. E os assuntos abordados não foram revelados para o público.
Uma fonte ouvida pelo DCM garante que os temas são variados, inclusive com assuntos familiares.
Há muita preocupação na campanha do ex-ministro de Bolsonaro. Isto porque nem eles sabem o teor das conversas. E o ex-juiz não é claro sobre o que teria falado nos bate-papos que teve naquela ocasião. O que corre é que haverá bombas. E difíceis de ser explicadas.
O que se sabe sobre o grampo de Moro?
Em 2017, o DCM mostrou em reportagem que a situação era séria. O passado incômodo foi revelado em dois CDs entregues à jornalista Denise Mello, então na rádio Bandnews de Curitiba. Ali estavam as transcrições das conversas de Moro. Bertholdo divulgou os registros da interceptação clandestina para se defender de um processo em que se encontrava preso, acusado de lavagem de dinheiro e tráfico de influência.
Na entrevista que concedeu à rádio, de dentro da cadeia, ele contou que o doleiro Alberto Youssef, solto por Moro num acordo de delação premiada em 2004, estava operando intensamente no mercado paralelo e, com a delação dele, outros doleiros haviam sido presos ou saíram do mercado. Youssef ficou praticamente sozinho no comando do submundo da lavagem de dinheiro.
Moro se mobilizou para que Roberto Bertholdo fosse condenado por crimes contra a honra. Sua mulher e o amigo Zucolotto atuaram no processo em que o advogado e lobista pretendia que fosse aceita exceção da verdade — isto é, quando a alegada injúria ou difamação são decorrentes de fatos ocorridos efetivamente.
O expediente da exceção da verdade não foi aceito, e as fitas foram colocadas sob segredo de justiça e jamais divulgadas.
Outro grampo
Sergio Moro já tinha sido vítima de Bertholdo em outro caso de escuta clandestina.
Entre dezembro de 2003 e março de 2004, durante a investigação da mega lavanderia de dinheiro que funcionava no Banestado, Moro teve os telefones do gabinete no fórum e da casa grampeados.
Soube disso através de dois delatores, o Toni Garcia e o Sérgio Costa. Já processava Bertholdo, pelo crime de lavagem de dinheiro e de tráfico de influência.
O procedimento normal, nesses casos, é que o juiz se afaste do caso. Mas não foi o que ele fez.
Moro permaneceu à frente da investigação e, a pedido do Ministério Público Federal, ordenou a quebra do sigilo telefônico de Bertholdo e autorizou os dois delatores a gravarem conversas com ele.
Bertholdo negou que os grampos tivessem sido feitos por ele (assumia apenas a tentativa de divulgação) e culpava Alberto Yousseff, com quem teve relações no passado.
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