“Maurício Lima leu as primeiras reportagens da Vaza Jato pelo celular, na mesa de um restaurante francês dos Jardins. Então com 46 anos, com cabelo grisalho e barba rala, ele havia assumido o cargo de diretor de redação da Veja semanas antes, em 13 de maio (…). ‘Tomamos um rombo!’, disse para a mulher, impactado pela magnitude daquele furo jornalístico, com uma ponta de frustração de ler isso na concorrência. ‘Que merda. Vamos ter que correr atrás'”, escreve a jornalista Letícia Duarte no livro “Vaza Jato Jato: Os bastidores das reportagens que sacudiram o Brasil”.
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O jornalista Maurício Lima que aparece nas páginas do livro do The Intercept Brasil, largando um prato de risoto com vinho, parece bem diferente do sujeito responsável pela edição de novembro de 2021.
Em 17 de junho de 2019, Lima correu para pedir acesso ao arquivo de conversas dos procuradores da Lava Jato que mostrava crimes deles com o ex-juiz Sergio Moro.
A Veja de hoje faz campanha para Moro, estampa o ex-juiz e ex-ministro de Jair Bolsonaro na capa e não menciona sua participação na série de reportagens da Vaza Jato.
Qual foi a participação da Veja na Vaza Jato do Intercept?
Em junho de 2019, Maurício Lima telefonou para o redator-chefe da revista, Sérgio Ruiz Luz, e se reuniu com o dono do grupo Abril, Fábio Carvalho. “Essa história aí do Intercept com o Moro é uma pancada. Nós temos que entrar nessa”, disse na época, de acordo com o livro.
“O Moro até então tinha uma imagem de herói absoluto, que nós mesmos ajudamos a construir, nós e outros veículos de imprensa. Mas, naquele momento, com aquelas provas… havia uma ruptura. Se Moro cruzou a linha, a gente tinha que fazer matéria”.
E complementa: “o que a gente defende não são pessoas e partidos, são princípios e valores. A gente é contra a corrupção, a favor da democracia e a favor do respeito máximo ao Estado Democrático de Direito. Nós elogiamos a Lava Jato várias vezes, mas isso não nos coloca em uma posição de defender este e atacar aquele no matter what. Não pode ser assim”.
O livro ainda relata que a parceria entre a revista Veja e o The Intercept soava “até difícil” de acreditar, considerando as diferenças editoriais entre os veículos de imprensa. Glenn Greenwald, fundador do site responsável pela série de reportagens da Vaza Jato, garantiu acesso integral da Veja ao material.
Não foi apenas uma edição. A segunda capa da Veja sobre o assunto teve a chamada “Demoronando”. A publicação fez um longo editorial fazendo autocrítica acompanhada por uma reportagem baseada nas conversas de Telegram entre os procuradores da Lava Jato. Foram edições nas semanas de 10 e 19 de junho de 2019.
Houve problema nessa parceria entre Veja e Intercept
Nem tudo ocorreu bem na parceria entre Intercept e Veja.
O fato foi narrado no livro sobre a Vaza Jato e pelo editor-executivo do The Intercept Brasil, Leandro Demori, em uma live no DCM TV. Entre as normas de segurança para acessar o arquivo das conversas de Telegram, os repórteres convidados não poderiam acessar a internet durante a consulta. Um dos repórteres da revista Veja desrespeitou essa regra e discutiu com Demori, elevando o tom de voz.
“Fecha o computador agora e sai daqui”, afirmou o editor-executivo do Intercept, expulsando o repórter.
Isso levou Demori e Maurício Lima a conversarem pelo WhatsApp. O diretor da Veja deu razão para o Intercept. “Regra não se discute, a casa é de vocês. Se fosse o inverso, eu faria a mesma coisa”, disse Lima na ocasião.
A parceria Veja-Intercept prosseguiu.
Dois anos depois, a revista estampa: “#VemMoro2022”.
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