Sergio Moro disse em depoimento ao juiz Luciano Souza, do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, no dia 7, que as ações contra ele, que ameaçam seu mandato de senador, resultam de perseguição política.
No dia 13 de setembro de 2017, Lula também disse a um juiz que sofria perseguição política e perguntou ao magistrado se ele se considerava imparcial.
A audiência tratava do processo do sítio de Atibaia e o juiz era o próprio Sergio Moro, que repreendeu o ex-presidente: “Não cabe ao senhor fazer esse tipo de pergunta para mim”.
Vamos tentar confrontar os dois casos, para identificar semelhanças e diferenças. Se os dois se queixaram de perseguição política, ambos estavam na mesma situação? Não. Não estavam.
Moro acusa de perseguição seus adversários da política. São duas ações no TRE, uma da federação formada por PT, PV e PC do B e outra apresentada pelo PL, por ilegalidades financeiras que teria cometido na campanha do ano passado.
São os partidos, por seus líderes, questionando a lisura da campanha de Moro ao Senado em 2022. São seus adversários. Esse tipo de ação é da natureza da política.
O senador fez questão de dizer na audiência que a perseguição não é exercida pela Justiça Eleitoral. E assim ele mesmo contribuiu para que se estabeleça a principal diferença entre o seu caso e o de Lula.
Moro se queixa da perseguição de adversários políticos que competiram com ele numa disputa eleitoral. Lula denunciava a perseguição de agentes do Estado na estrutura política montada pelo lavajatismo no Ministério Público e no judiciário de Curitiba, para que não voltasse a se eleger presidente da República.
A perseguição que Moro diz enfrentar será arbitrada pelo sistema de Justiça na área eleitoral. A perseguição que Lula enfrentou havia sido acionada dentro do sistema de Justiça e seria arbitrada dentro desse sistema, inclusive em instâncias superiores.
Moro tem a chance de provar ao TRE que é perseguido pelos adversários. Lula não teve chance alguma, porque investigadores, acusadores e julgadores eram parte da engrenagem da perseguição.
Uma perseguição planejada, estruturada e institucionalizada. Com toga e a serviço do fascismo dos que desejavam e conseguiram encarcerar Lula pouco antes da eleição.
Lula enfrentou a Polícia Federal da Lava-Jato, os procuradores da Lava-Jato, o juiz-chefe da Lava-Jato, a segunda instância lavajatista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, a Globo, a Folha, o Estadão, a Fiesp.
Moro tem a chance de mostrar provas da perseguição enquanto o processo vai adiante e pode até evitar a condenação. Lula só conseguiu se libertar das condenações, e no Supremo, depois de 580 dias de cárcere como preso político.
Moro é julgado por delito eleitoral e não se sabe se será um dia submetido a julgamento também por crimes previstos no Código Penal.
A prova maior de que Lula sofria perseguição política de agentes do Estado foi apresentada pelo próprio Moro. O ex-juiz anunciou-se como ministro de Bolsonaro apenas sete meses depois de encarcerar o favorito para derrotar a extrema direita.
Seu principal auxiliar, Deltan Dallagnol, a quem tratava como extensão do Judiciário, também abandonou o MP e se elegeu deputado federal, depois cassado pelo TSE.
A pergunta que Lula fez a Sergio Moro, naquele 13 de setembro de 2017, foi esta:
“Eu vou chegar em casa amanhã, vou almoçar com oito netos e uma bisneta de 6 meses. Eu posso olhar na cara dos meus filhos e dizer que eu vim a Curitiba prestar depoimento a um juiz imparcial?”
Moro sabia que, apesar dos protocolos que o protegiam como magistrado, cabia a Lula fazer aquela pergunta seis anos atrás. E Lula sabia que a resposta seria dada logo, pelo conjunto de fatos, mas nunca imaginou que chegaria tão depressa.
Moro não é um perseguido, é apenas mais um ameaçado por desmandos com dinheiro na campanha eleitoral, dentro de um sistema que ele dizia combater.
Todos os lavajatistas sabem que cabe a Lula o direito de dizer que sofreu perseguição política de Sergio Moro.