O jornalista Renan Antunes de Oliveira morreu na manhã deste domingo, 19, em sua casa em Florianópolis. Tinha 70 anos.
Deixa a mulher, Blanca, e seis filhos: Floriano, Leonel, Jerônimo, Catarina e Bruno, mais a caçula Angelina, de 11, seu xodó.
Deixa órfãos todos nós do DCM e o jornalismo brasileiro.
Renan era sobrevivente de um transplante de rim feito no mês passado.
Pelejou entre internações, médicos e todo o calvário do câncer. Foi para a rua fazer reportagens até quando não pôde mais.
Eu nunca o vi se queixar de nada. Nada. Ninguém viu. Era uma força da natureza.
Passou pela Veja, Gazeta do Povo, RBS, IstoÉ, Estadão. Ganhou o Prêmio Esso com uma matéria publicada no Jornal Já, de Porto Alegre, com tiragem mensal de apenas 5 mil exemplares.
Foi preso em 2001 pela polícia iraniana. Acorrentou-se em frente à embaixada brasileira em Pequim quando o ameaçaram de ser deportado.
Reuniu alguns de seus trabalhos no livro “Em carne viva com calda de chocolate”.
No DCM, fez a matéria sobre o “triplex dos Marinhos” em Paraty. Depois dela, o Google colocou um pin sobre a mansão (retirado por via judicial).
Seu perfil de Marco Archer, o brasileiro sentenciado à morte na Indonésia, ficou por semanas entre as mais lidas. A série sobre Luciano Hang rendeu outros tantos furos.
Nos últimos meses, se reinventou como apresentador do nosso canal do YouTube. Ganhou um público fiel com sua verve, contundência, carisma e as aventuras que relatava.
Era o “Véio do DCM”.
Renan era jornalista full time. Jamais vi nada igual. Era um rebelde, o que os americanos chamam de maverick. Não era fácil. Mas quem é? Você? Eu não sou.
Blanca me contou que hoje, pouco antes de falecer, pediu a ela que me ligasse. “Ele me falou: ‘Avisa o Kiko que acho que hoje não vai dar pra fazer o programa’”, disse a Blanca.
Segunda ela, a médica telefonou no sábado, 18, avisando que o exame para coronavírus dera negativo.
A tomografia do pulmão, feita cinco dias antes, havia acusado manchas compatíveis com covid-19. Renan estava tomando um coquetel à base de hidroxicloroquina e azitromicina.
A associação dessas duas drogas “potencializa o risco” de distúrbio do ritmo cardíaco, podendo ter resultado fatal, alertaram autoridades sanitárias francesas.
No romance “A Peste”, de Camus, o jornalista Raymond Rambert acaba obrigado a ficar em Orã por conta de uma epidemia.
A alturas tantas, decide abandonar sua tentativa de fuga para encontrar a amada.
Prefere lutar contra a peste, pois “tem vergonha de ser feliz sozinho e sente que pertence à cidade”.
Renan lutou contra as doenças nacionais, a mais recente delas o bolsonarismo.
Pertencia ao Brasil, batalhou pelo Brasil com suas armas — a inteligência, a garra –, não desistiu em nenhum momento.
Seu trabalho permanecerá.
Obrigado, amigo. Obrigado.