A união de movimentos sociais pode fazer uma corporação dobrar os joelhos e ainda assim sair bem na foto.
Uma comissão de vários grupos ligados às causas da criança e do adolescente, da população em situação de rua, do movimento negro, da igualdade racial, juntamente com representantes da Defensoria Pública e da Comissão de Direitos Humanos esteve na noite de ontem reunida com advogados do Shopping Higienópolis.
A reunião foi marcada na semana passada durante breve ocupação dos movimentos em protesto contra o pedido do shopping para que seus seguranças apreendessem crianças ‘indesejáveis’ e entregassem-nas à Polícia Militar.
A condição – inegociável para os movimentos sociais – era que os advogados não recorressem da sentença da juíza da Vara da Infância e Juventude, Monica Arnoni, que indeferiu o requerimento.
Isto posto, os representantes dos movimentos mostraram ainda qual o caminho correto a seguir.
“Vocês estão ganhando uma assessoria gratuita”, disse Douglas Belchior, da Uneafro. É que, além do compromisso de não entrar com o recurso, o grupo instruiu ao shopping que um projeto de inclusão seja elaborado e colocado em prática. Para demonstrar que não são meros ‘reclamadores profissionais’, os representantes de cada movimento comprometeram-se a formar um grupo de trabalho em conjunto com o shopping.
Em vez de simplesmente apreender e enviar para a polícia, um projeto no sentido de acolher e dar apoio às crianças e adolescentes da região (que envolva ainda o Conselho Tutelar).
Em resumo: ajudem ao invés de lavar as mãos.
O tema é fundamental para se corrigir o problema na raiz. Uma corporação gigante e altamente lucrativa como um shopping precisa fornecer sua contrapartida social. Senão ficará enxugando gelo.
A questão das crianças é emblemática. Não há, por exemplo, um equipamento público para acolhimento das que estão em situação de rua. Os albergues não aceitam menores. O que fazer? Uma rede de shoppings centers tem verba suficiente para auxiliar de alguma maneira. E tem esse dever.
Diante de uma postura tão propositiva e positiva, o advogado que representava o shopping, Sergio Vieira, fez uma breve consulta com os demais responsáveis e imediatamente renunciou ao direito de recorrer da sentença. Um grupo de trabalho será formado nos próximos dias para debate de ideias e elaboração do projeto.
Os movimentos sociais saíram de lá vitoriosos. Mas não foram os únicos. Pelo diálogo (e ação!), todos sairão ganhando. Inclusive o próprio shopping que poderá deixar de ter sua imagem de empresa racista, intolerante e segregadora, alterada para uma instituição socialmente responsável e inclusiva. Se o departamento de marketing não tinha percebido isso até hoje, os movimentos sociais foram lá e deram a receita da estratégia correta. E foi de graça.