Publicado originalmente no GGN
O Ministério Público de São Paulo denunciou, nesta terça (4/9), Fernando Haddad, candidato do PT à vice-presidência da República, por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Só que os fatos narrados nesta acusação se repetem em outras duas ações que já foram apresentadas contra o ex-prefeito – a última delas, há menos de 10 dias, em 27 de agosto.
Foi só o PT avisar que iria denunciar no Conselho Nacional do Ministério Público a segunda investida contra Haddad, por considerá-la uma operação boca-de-urna contra o vice de Lula, que o promotor Marcelo Mendroni sacou a terceira acusação.
Em tese, a Justiça proíbe que uma pessoa seja acusada com base nos mesmos fatos em mais de uma ação, para evitar julgamentos conflituosos. Na prática, porém, o Ministério Público do Estado tem usado a mesma delação premiada para atacar Haddad em 3 frentes distintas.
Na primeira, que está na Justiça Eleitoral, o MP diz que Haddad foi beneficiado por caixa 2 na campanha de 2012. Isso porque o delator Ricardo Pessoa, da UTC, afirma ter pago, supostamente a pedido de João Vaccari Neto, uma dívida do PT junto a uma gráfica. Essa dívida seria de R$ 3 milhões, mas a UTC negociou para pagar R$ 2,6 milhões. O dono da gráfica reconhece o recebimento dos recursos, mas afirma que não há elo com a campanha de Haddad.
Na segunda denúncia, uma ação civil por improbidade administrativa, o promotor Wilson Tafner reciclou a mesma delação para acusar Haddad de enriquecimento ilícito. As declarações de Pessoa foram reembaladas pelo MP-SP, acrescidas de matérias de jornais, outras delações da Lava Jato e as impressões da Promotoria – que basicamente sustenta que Haddad fez com a UTc em São Paulo o mesmo que o PT fez com a Petrobras e as empreiteiras no plano nacional.
O GGN destrinchou neste artigo aqui a segunda denúncia, apontando seu caráter esquizofrênico. O MP-SP mistura, sem cerimônia, as convicções do promotor com as delações (inclusive, algumas que contrariam a tese da acusação) e notícias de jornais, supondo que atos indefinidos tomados por Haddad durante seu mandato beneficiaram a UTC em troca dos R$ 2,6 milhões.
Agora, na terceira frente, os mesmos fatos são resgatados para denunciar Haddad na área criminal. Quem reportou a notícia foi o UOL, mas sem dar detalhes do que consta na acusação.
O portal apenas informa que o PT teria usado uma rede de gráficas para receber a vantagem indevida e “indireta” em relação a Haddad. Não há relatos do que o ex-prefeito teria feito em troca da propina, para justificar a peça por corrupção, lavagem e formação de quadrilha. A descrição da operação de lavagem em favor da gráfica que recebeu os R$ 2,6 milhões, com participação de Alberto Youssef, já foi narrada nas demais denúncias.