Até o próximo dia 16 de outubro, será possível conferir no New Museum, em Nova York, a mostra “Five Times Brazil”, com a exposição de cinco obras desenvolvidas pelos artistas Bárbara Wagner (Brasília, Brasil) e Benjamin de Burca (Munique, Alemanha), que conta com uma das obras desenvolvidas em parceria com o Coletivo de teatro Banzeiros, do MST.
A mostra traz cinco obras que dialogam com o período atual de particular turbulência sociopolítica no Brasil. Entre elas, a Faz que vai [Set to Go] (2015), que foca em quatro dançarinos cujas práticas complicam a relação entre frevo tradicional e contemporâneo no nordeste do Brasil; Estás vendo coisas (2016), que mergulha na paisagem da música brega de Recife (PE); Terremoto Santo (2017), que volta-se para o gospel produzido e interpretado por jovens pregadores, cantores e compositores do interior pernambucano; Swinguerra (2019), encomendado para o Pavilhão do Brasil na 58ª Bienal de Veneza, que analisa competições de dança nos arredores recifenses (PE); e uma nova peça, Fala da Terra (2022), que apresenta a prática do Coletivo Banzeiros, grupo de teatro composto por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) – organização que vem lutando pela reforma agrária e contra as desigualdades sociais que atingem os trabalhadores rurais no Brasil há quase quarenta anos.
Juntas, as obras da exposição destacam a força e a complexidade da expressão artística e demonstram como a cultura pode oferecer fontes profundas de resistência e comunidade.
A partir do dia 26 de agosto até 30 de outubro, a obra também será exibida no Brasil no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), durante a exposição “Histórias Brasileiras”.
Autorrepresentações, movimento e drama
Trabalhando juntos há uma década, Bárbara e Benjamin produzem filmes e videoinstalações que apresentam protagonistas engajados na produção cultural. A dupla normalmente colabora com não-atores para fazer seus filmes, desde escrever roteiros até encenar performances na câmera.
Já o Coletivo Banzeiros de teatro do MST, integrante da obra “Fala da Terra”, é composto por militantes do movimento da região amazônica, que surgiu em 2016, após o Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra, realizado na curva do S, no Pará. O acampamento acontece anualmente no mesmo local onde há 25 anos ocorreu o massacre de Eldorado dos Carajás, na estrada que liga Marabá a Parauapebas.
A obra resultante, assim como as demais instalações da mostra, são marcadas por retratar condições econômicas e tensões sociais presentes nos contextos em que são filmadas, dando urgência a novas formas de autorrepresentação por meio da voz, do movimento e do drama.
Sentidos da “Fala da Terra”
Douglas Estevam, do Coletivo Nacional de Cultura do MST, conta que o texto dramatúrgico que inspirou a montagem do vídeo-instalação intitulado “Fala da Terra”, se chama “Por estos santos latifundios”, de autoria do colombiano Guillermo Maldonado Pérez, e chegou a ser premiado pela Casa da Américas de Cuba, em 1975.
— VIDRAÇA TAMBÉM É GENTE, GENTE… (@VidrsGente) July 4, 2022
Sob a versão contemporânea exposta na mostra, Kananda Rocha Xavier, integrante do Coletivo Banzeiros, fala sobre os sentidos da experiência de integrar a obra:
“Para nós, enquanto Coletivo Banzeiros e sujeitos militantes que trabalham nesse campo da arte, a ‘Fala da Terra’ tem uma simbologia muito grande, porque é dar voz para as pessoas que protagonizam a luta e resistência no sudeste paraense, na região amazônica, que vai desde o indígena, do ribeirinho, do camponês, que são sujeitos que são inviabilizado pela sua luta, mas que estão no fronte, lutando por direito, por terra, por alimentação saudável.