MST segue vendendo arroz por valor justo em meio à alta dos preços

Atualizado em 11 de setembro de 2020 às 14:03

Publicado originalmente no Brasil de Fato

Por Renata Vilela

Não há uma política nacional de subsistência e segurança alimentar – Divulgação MST

A alta no preço do quilo do arroz é o assunto da semana no país. As razões para esse aumento são várias, mas nenhuma delas passa pelos pequenos produtores, que mantiveram o produto a preço de justo. É o que explica Nelson Krupinski, produtor de arroz orgânico no assentamento Jânio Guedes em São Jerônimo, Rio Grande do Sul, assentado da Reforma Agrária do Movimento dos Sem Terra (MST) e sócio da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap).

A possibilidade de estocar e não vender a produção forçando o aumento dos preços é uma prerrogativa das grandes indústrias. Os pequenos produtores, diz Nelson, não têm capital suficiente para tanto. “Os pequenos produtores já comercializaram sua safra há muito tempo, porque é o normal”, afirmou.

Mesmo com todas as possibilidades de aumentar seus preços e lucrar como nunca antes, os pequenos produtores assentados pelo MST seguem com seus preços e sua missão. “Estamos garantindo o abastecimento das escolas e também das feiras e dos nossos pontos de venda”, afirmou Nelson.

Nessa equação da alta de preços, o governo também entra. Desde que deixou de ter um estoque regulatório de alimentos, o governo abdicou de intervir no mercado. Mesmo em torno do benefício de sua população. Assim, não há uma política nacional de subsistência e a segurança alimentar, está nas mãos invisíveis do mercado.

Cooperativa de trabalhadores

A Cootap congrega mais de 600 famílias bastante parecidas com as de Nelson. Pequenos agricultores que plantam cerca de 10 hectares de arroz orgânico por ano, com mão de obra familiar e seguindo os princípios da agroecologia. Ou seja, um pequeno produtor que produz alimentos, e não commodities para o mercado externo.

De acordo com ele, um dos princípios norteadores da produção é o respeito à terra: “buscamos preservar os recursos naturais, as águas existentes. Nosso manejo é todo baseado na produção agroecológica, sem uso do agrotóxico, que contamina o solo, os lençóis freáticos e os animais aquáticos”.

Contudo, não é só o respeito à natureza que o guia. Com orgulho, ele diz por si e por seus iguais: “Acreditamos que o acesso a alimentos saudáveis é um direito universal”.