Muito além de Alexandre Pires: por que cruzeiros são o paraíso para pessoas com planos de morte

Atualizado em 30 de dezembro de 2023 às 21:21
MSC Preziosa

O show do cantor Alexandre Pires no cruzeiro ‘Réveillon em Alto Mar’ foi cancelado após uma pessoa supostamente cair no mar na madrugada de sábado (30). O navio ‘MSC Preziosa’ partiu do Porto de Santos, com passageiros e artistas, e seguiu para o Réveillon no Rio de Janeiro.

Segundo a MSC, uma busca minuciosa foi realizada a bordo e se confirmou que o hóspede saltou intencionalmente na água. A embarcação navegava para Angra dos Reis. Dois barcos de apoio procuraram o hóspede por “várias horas”, mas ele não foi encontrado. “O incidente foi relatado imediatamente às autoridades competentes e a Guarda Costeira liberou o navio para prosseguir viagem”, diz a empresa.

Ainda de acordo com a MSC, a Guarda Costeira continuará as buscas.

Uma em cada três mortes em um cruzeiro é assassinato, declara o professor canadense de Estudos Marítimos Ross Klein, sociólogo na Universidade Memorial de Newfoundland que estuda essa indústria, autor do livro “Cruise Ship Blues”.

Em todo o mundo, o apelo de “homem ao mar” é relatado 24 vezes por ano. Quase nunca a vítima é encontrada. Em parte, trata-se de suicídio, mas acidentes devido ao consumo excessivo de álcool, por exemplo, também são comuns.

Para Klein, um navio de cruzeiro é um lugar ideal para cometer um assassinato. Não há polícia e uma investigação completa não é feita imediatamente. O advogado alemão Alexander Stevens chama os cruzeiros de “paraíso para pessoas com planos de assassinato”.

“Alguém é jogado ao mar ou moído pela hélice, ou é levado rapidamente pela correnteza, ou se torna isca para peixes. Isso dificulta a obtenção de provas. Geralmente, não há imagem de vídeo porque faltam câmeras de vigilância”, declara.

Os familiares das vítimas costumam brigar com as companhias de navegação por anos para obter esclarecimentos sobre a morte ou o desaparecimento de seus entes queridos. Uma compensação costuma ser paga aos parentes dos sobreviventes, mas é raro um caso ser levado aos tribunais.

De acordo com o Departamento de Transportes dos EUA, dois cidadãos norte-americanos desapareceram durante cruzeiros durante o período de três meses entre 1º de julho de 2019 e 30 de setembro de 2019.

Os registros também mostram, nesse período, 35 alegações de agressão sexual, dois casos de agressão agravada, cinco roubos de mais de US$ 10 mil e duas tentativas de sabotagem denunciadas ao FBI.

Gorge Allen Smith IV, 26, estava no navio Brilliance of the Seas da Royal Caribbean em lua de mel com sua nova esposa, Jennifer Hagel Smith. Ele desapareceu depois de passar uma noite bebendo com quatro homens que conheceu numa noite. Sua esposa havia deixado o grupo após uma discussão.

Os quatro alegaram que Smith estava bêbado. Eles o teriam levado para a cabine e voltado juntos. Os vizinhos, no entanto, disseram que viram apenas três homens saindo e ouviram vozes de dois deles discutindo e de móveis arrastados.

Uma mancha de sangue foi descoberta no convés sob o quarto de Smith e marcas de sangue foram encontradas no lençol. A polícia turca abriu uma investigação e concluiu que Smith acidentalmente caiu acidentalmente.

O quarto onde Smith e sua esposa ficaram foi limpo pela equipe de bordo, que disse que a polícia turca permitiu.

Quando o FBI interveio, dois dias depois, restavam poucas evidências. A família de Smith disse não acreditar que seu desaparecimento tenha sido um acidente.