Fiz outro dia a pergunta e agora dou minha resposta franca: beleza ajuda sim na carreira de uma mulher.
E não pouco.
Em meus trinta anos de jornalismo, jamais conheci o caso de uma jovem repórter bonita cuja caminhada não tenha sido, de alguma forma, mais suave que a habitual.
A vida numa redação é dura. A pressão contra o relógio e contra os furos da concorrência é enorme. O jornalista é um paranóico em potencial. Dorme pensando em jornalismo, acorda pensando em jornalismo. Tem pesadelos com jornalismo: errou a grafia de um nome, foi furado pelo repórter da concorrência.
O jornalista, em resumo, é um sofredor. Não surpreende que nossa expectativa de vida seja inferior à média. Papai morreu com minha idade.
Há a crença generalizada entre os jornalistas, certa ou errada, de que uma mulher bonita na redação mitiga as aflições.
Muitos jornalistas talentosos e experientes – e não necessariamente com segundas intenções – estão prontos a servir de tutores, mentores, professores de jovens repórteres atraentes. Habitualmente severos, os editores costumam ser extraordinariamente condescendentes com uma repórter atraente. Corrigem com doçura textos, explicam com vagar como melhorar uma reportagem, podem elogiar banalidades.
Faço a seguinte imagem. Um andar é facilmente escalado pela beleza da repórter. Os demais, aí sim, exigem também competência, dedicação. É neste segundo e mais crucial momento que a meritocracia aparece.
Não é uma exclusividade do jornalismo. A vida corporativa é assim.
Houve, é verdade, uma mudança grande nos últimos anos. Isso se deveu, paradoxalmente, à ascensão das mulheres nas redações.
Ciúmes entre mulheres passaram a ser bem mais comuns do que nos tempos em que as redações eram redutos masculinos e machistas.
Se eram e são vistas com indulgência pelos homens mais velhos da redação, as jovens jornalistas passaram a despertar muitas vezes sentimentos opostos entre as mulheres de meia idade.
O texto em que debati a questão da influência da beleza na carreira era centrado, especificamente, em Rebekah Brooks, a exuberante ruiva que fez uma jornada rapidíssima na News International, o braço inglês do império de mídia de Rupert Murdoch.
Rebekah foi a primeira mulher a dirigir um tablóide inglês, aos 32 anos.
Ela não encontrou nenhuma outra Rebekah mais velha que eventualmente sentisse ciúme do fascínio que ela provocava entre os homens da empresa e pusesse obstáculos em seu caminho.
Por tudo que vi e vivi, duvido que ela própria, agora na faixa dos 40 anos, fosse tão generosa como foram com ela se adentrasse numa das redações dos jornais sob seu comando uma Rebequinha.