Publicado originalmente no Brasil de Fato
Em entrevista a jornalistas brasileiros e argentinos em Buenos Aires, nesta sexta-feira (17), o deputado federal Eduardo Bolsonaro afirmou que Jair Bolsonaro e o presidente da Argentina, Mauricio Macri, coincidem em suas ideias sobre economia, apesar de acreditar que o mandatário do país vizinho tem perfil político mais moderado.
“Bolsonaro faz críticas mais duras ao regime de Maduro, por exemplo. Macri tem uma imagem mais suave, menos polêmica. Acredito que é até natural que ocorra essas divergências, mas são pontuais. E na economia, eles têm muito mais no que convergir do que divergências. Na economia é o grande pulo do gato, onde existe espaço para cooperações, para firmar acordos”, afirmou o deputado federal.
Em abril, a inflação argentina acumulou 55,8% nos últimos 12 meses, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censo (INDEC), equivalente argentino do IBGE. A inflação em alimentos e bebidas, com maior impacto sobre a população de menor poder aquisitivo, acumulou 66,2% nos últimos 12 meses.
Com dados de 2018, um relatório da Universidade Católica Argentina (UCA) sobre pobreza multidimensional no país revelou que 31,3% da população urbana está privada de bem-estar econômico e de direitos sociais, o maior índice desde 2010. Crianças e adolescentes enfrentam uma situação ainda mais crítica: 41,2% enfrenta pobreza e privação total de direitos.
Sobre a possibilidade de Cristina Kirchner voltar a governar a Argentina, Eduardo afirmou que o Brasil vai reconhecer uma eventual vitória da ex-presidenta nas eleições marcadas para outubro deste ano. “Se ela vier a ser eleita, o Brasil certamente vai reconhecer, sem problema nenhum. Mas não vai ser assim um encontro caloroso, como é hoje com o Mauricio Macri, justamente porque a maneira de ela pensar a parte econômica vai acabar por barrar vários projetos de integração nacional.”
No entanto, na manhã deste sábado (18), quando Eduardo Bolsonado deixava Buenos Aires, Cristina Kirchner anunciou que será candidata a vice-presidenta em chapa com o ex-chefe de gabinete de Néstor Kirchner, Alberto Fernández, que será o candidato à presidência.
Sobre a crise na Venezuela, o terceiro filho de Jair Bolsonaro sugeriu que uma das possibilidades poderia ser a formação de forças de militares desertores fora do país caribenho. “Eu não estou falando que o Brasil tenha hoje em dia militares venezuelanos no seu território sendo treinados ou que esteja dando guarida para um tipo de ação como essa”, reforçou. “A minha fala dizendo que eu apoio qualquer tipo de ação contra o Maduro é porque acredito que a normalidade só vai voltar pra Venezuela com a saída do Maduro do poder.”
Quanto às investigações sobre lavagem de dinheiro que implicam seu irmão mais velho, Flávio Bolsonaro, Eduardo afirmou que são parte de uma campanha para atingir a imagem do senador. “Eu acredito que vá ocorrer uma tentativa de assassinato de reputação onde a todo momento, a conta gotas, vai ser pinçado um problema de uma conta bancária dele.”
Em resposta a pergunta do Brasil de Fato sobre os vínculos com milícias de empregados do gabinete de Flávio à época de seu mandato como deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Eduardo defendeu a inocência do irmão. “O que acontece é que, por exemplo, o Flávio Bolsonaro condecorou um policial militar há 15, 20 anos atrás. Depois , se ele venha a se meter em algum escândalo ou envolvimento que seja com grupo paramilitar, tentam colocar na conta dele”, disse. “Seria muito raso dizer que existe um apoio por conta disso. Por exemplo, aqui no CARI deve ter dezenas de empregados. Será que o presidente tem controle do que todos fazem? Mas mais uma vez, eu acredito que vai ser feito justiça e que esse caso mais pra frente vai resultar na sua absolvição. Se é que vai virar processo ainda.”
A coletiva de imprensa aconteceu após uma apresentação no Conselho Argentino de Relações Internacionais (CARI). A palestra foi parte da agenda de dois dias com representantes da Comissão de Relações Exteriores e ministros do governo Macri. Na entrada do evento, integrantes do Coletivo Passarinho organizaram um ato em que distribuíram laranjas a quem passava pela porta do prédio.
“O papel dos brasileiros é, por um lado, sempre que representantes desse governo estiverem fora do Brasil, fazer a denúncia dos atos antidemocráticos desse governo. E, por outro lado, articular, a solidariedade internacional, com as organizações progressistas dos diversos países. Estamos articulando com todo o campo progressista para que quando da visita do Bolsonaro, se ele não desistir antes, tenhamos muita gente na rua, denunciando o retrocesso que ele representa”, apontou Antônio Ferreira, um dos integrantes do Coletivo Passarinho.
A visita de Bolsonaro à Argentina está agendada para o dia 6 de junho.