Na lama da Samarco: o casamento do PMDB com as empresas de mineração

Atualizado em 13 de novembro de 2015 às 14:09

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Por Alceu Castilho, publicado em seu blog.

 

O deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG) é o responsável pela relatoria do novo Código de Mineração, em debate no Congresso há alguns anos. Pode ser considerado um afortunado. Durante a campanha de 2014 ele foi um dos parlamentares que mais receberam doações de empresas do setor. A Vale Mina do Rio Azul, do grupo Vale, contribuiu com um cheque de R$ 700 mil para o diretório nacional do PMDB, que transferiu a verba para a campanha à reeleição do deputado.

Não foi a única, entre as empresas-chave do setor. Quintão ainda recebeu um cheque de R$ 300 mil da Anglogold, R$ 100 mil da Kinross, R$ 133.334 da Usiminas, sempre com repasses muito específicos – a um político interessado no tema – do diretório nacional. Além de R$ 263 mil do grupo Gerdau, R$ 183 mil da Arcelormittal, R$ 30 mil da CRBS e R$ 20 mil da Magnesita.

Somente os R$ 100 mil da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, do grupo Moreira Salles (o Itaú Unibanco doou mais R$ 50 mil), os R$ 80 mil da Votorantim Siderurgia e os R$ 100 mil da Flapa Mineração entraram diretamente na prestação de contas do deputado, sem passar pelo diretório nacional.

Mesmo os R$ 200 mil recebidos da Bradesco Saúde não deixam de ter alguma conexão com o reino da mineração. A Bradespar, do Bradesco, é uma das sócias da Valepar, que controla a Vale, aquela que já foi do Rio Doce. O Bradesco foi um dos maiores doadores da campanha de 2014, tomando por base todas as candidaturas. (Setores como o bancário e o de mineração, portanto, não são estanques.)

O PODER DO PMDB

Não é à toa que as empresas do setor têm tamanha atenção pelos parlamentares do PMDB. Uma reportagem de 2013 da Agência Pública – “Teia de interesses liga políticos a mineradoras em debate sobre novo Código” – mostrou como políticos do partido indicam os chefes regionais do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em meio à conhecida relação gelatinosa entre Legislativo e Executivo no Brasil.

O deputado Arthur Maia (PMDB-BA) por exemplo, indica o superintendente do DNPM baiano, um dos mais importantes do país. Em 2014, sua campanha à reeleição recebeu 200 mil da Salobo Metais e 200 mil da Vale Manganês, ambas da Vale. O paraense José Priante (PMDB), responsável pelas indicações no Estado, teve uma ajuda de R$ 500 mil da Vale Manganês.

Alguns tentaram outros voos. A deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), uma das que indicavam o superintendente capixaba, arriscou uma vaga no Senado. A Salobo a ajudou com 200 mil; a Vale energia, com R$ 300 mil, em repasse da Direção Nacional.

O ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) tentou se eleger governador potiguar. O que levou o Rio Grande do Norte a ter o maior volume de ajuda, entre as Unidades da Federação, por empresas ligadas à Vale. A MBR contribuiu com R$ 500 mil; a Vale do Rio Azul e a Vale Energia, com R$ 400 mil cada.