A denúncia de compra de apoios de militantes foi apenas mais uma tentativa do grupo do vereador Andrea Matarazzo para tentar desestabilizar a pré-candidatura de João Doria nas prévias do PSDB. Antes disso, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já havia manifestado contrariedade com a disputa interna, alegando que a cisão decorrente da disputa poderia trazer conseqüências graves ao partido. A tese acabou não colando e os três candidatos, João Doria, Matarazzo e Ricardo Tripoli continuam na batalha pelo voto dos 27 mil filiados na capital.
Dois dias antes de o vereador Adolfo Quintas ir à Folha de São Paulo dizer que a campanha de João Doria estava “comprando apoios”, uma prática ilegal, o boato nos bastidores do PSDB era outro: um grupo estaria “articulando” a candidatura de Fernando Henrique à prefeitura. Como uma espécie de Rei Salomão, com sua envergadura política, e seu histórico de serviços prestados ao partido, FHC viria para apaziguar os ânimos no ninho tucano.
O casuísmo não vingou. Afinal, não faz sentido imaginar FHC resolvendo problemas banais como buracos de rua, crise no transporte, na educação, na saúde, na assistência social, enfrentando ambulantes do Largo 13 ou na 25 de Março. E que dizer da Câmara de vereadores? Definitivamente lidar com um parlamento como o de São Paulo, em que o balcão de negócios é explícito, não é tarefa para um senhor de 85 anos.
Com tantas manobras no velho e bom estilo “operação Tabajara”, não resta outra interpretação senão a pergunta: a quem interessa desestabilizar as prévias do PSDB, cujo primeiro turno acontece no domingo, 28?
Para os minimamente iniciados nos meandros do PSDB não há dúvidas: os interessados são os estrategistas de Andrea Matarazzo. E mais: as atrapalhadas em série começam a levantar suspeitas de que a pré-candidatura do vereador, que tem apoio de FHC, José Serra, Aloysio e outros medalhões, “subiu no telhado”. A 15 dias do pleito, tem quem garanta que Ricardo Tripoli pode surpreender e vir a disputar o segundo turno com o preferido do governador Geraldo Alckmin.
A despeito de acertar ou não o resultado, importante agora é entender os motivos da aparente dificuldade da pré-candidatura de Andrea, mesmo tendo apoio das principais lideranças do partido. São dois, fundamentalmente: os militantes do PSDB cansaram de ser tratados como meros coadjuvantes, querem participar, querem ouvir, querem falar; a máquina governamental, aliada ao fato de Geraldo lidar melhor com os filiados, está fazendo diferença em favor de João Doria.
O resultado prático da eventual derrota de Andrea, caso ela se consolide, pode ser uma debandada em massa ainda neste semestre, pois com as mudanças na Lei eleitoral quem quiser concorrer às eleições deste ano terá de se filiar ao novo partido até abril. Se perder as prévias, Andrea dificilmente vai tentar a reeleição como vereador. O mais provável é seguir para o PSD – o manda-chuva Gilberto Kassab já teria lhe garantido vaga para disputar a prefeitura pelo partido.
Outro que deve sair é Serra. E seu destino mais provável é o PMDB, partido com o qual sempre se identificou – além dos aliados Alberto Goldman e Aloysio Nunes Ferreira, dois quercistas de quatro costados, Serra tem fortes laços de amizade com Renan Calheiros e pode tentar viabilizar pelo partido a sua candidatura a presidente em 2018.
Já prevíamos aqui no DCM que o clima ia esquentar nas prévias do PSDB. Batata. A insinuação de compra de apoios foi a pá de cal na ilusão de quem imaginava uma disputa democrática e alicerçada em valores ideológicos e de espírito coletivo.
Como o público vai reagir é o que ninguém sabe ainda. Aparentemente, a conseqüência mais imediata é a entrada em cena de Ricardo Tripoli. Sua prova dos nove acontece nesta segunda, 15, no Clube Piratininga, às 19h, quando realiza o primeiro grande encontro com apoiadores da sua candidatura. Se der público bom Andrea tem mais um motivo com o que se preocupar.