Publicado originalmente no site Brasil de Fato
Charles Trocate argumenta que existe um silêncio na mineração brasileira. “É um silêncio produzido pela falta de justiça, pela falta de qualquer aprendizado punitivo”, diz sobre os crimes socioambientais que o país sofreu devido à extração mineral no Brasil.
Lançado recentemente pela Expressão Popular, o livro “Quando Vier o Silêncio – o problema mineral brasileiro” de Charles Trocate e Tádzio Peters Coelho, traz uma reflexão sobre a construção de um projeto de soberania popular na mineração. Trazendo exemplos recentes de Brumadinho e Mariana, os autores buscam mostrar os impactos do extrativismo mineral no Brasil e como ele está distantes de favorecer as populações realmente afetadas.
Em entrevista a Mauro Ramos, da Rádio Brasil Atual (RBA) Charles Trocate, escritor, filósofo e educador popular explicou que foi necessário dedicar um capítulo do livro exclusivo à Vale devido ao processo de desestatização, que afastou ainda mais o Estado brasileiro de ter autonomia na mineração dentro do país.
“A Vale privatizada virou um vale tudo contra a natureza em função dos lucros extraordinários dos seus acionistas. Não tenho dúvida que para pensar numa mineração alternativa, nós tenhamos que o papel da empresa pública e estatal deve ser redesenhado. Só é possível nós controlarmos o modelo de mineração brasileiro se nós retomarmos a ideia que de a mineração no Brasil tem que ser pública, advinda do setor público e que beneficie o conjunto da sociedade.”
A soberania popular na mineração é um ponto chave para Charles Trocate. Esse poder de decisão do Estado brasileiro é primordial para que a extração mineral no país não prejudique a população.
“O Estado brasileiro precisa dizer onde minerar e onde não minerar. Esse é o primeiro elemento para construção de um projeto de soberania popular na mineração. De uns anos para cá, nós deslocamos o sentido da natureza em relação ao desejo da vontade humana. A primeira tarefa é: onde minerar, como minerar, qual o ritmo dessa mineração e qual é a renda que essa renda que essa mineração vai projetar no ponto de vista da sociedade de modo geral.”
Charles Trocate também fez um resgate histórico para explicar como a mineração no Brasil faz parte de uma lógica presente desde o período colonial.
“Nós sempre participamos da economia global oferecendo matéria prima. Há uma dialética entre as economias industriais, ou seja as do Norte, e as economias extrativas do Sul. Poderíamos chamar isso de uma permanente dependência. A natureza do Brasil é funcionar no sistema mundial de produção de mercadoria.”
O livro está disponível gratuitamente e para compra no site da editora Expressão Popular.