Não é pelos 20 centavos: por que o protesto pela moradia deve ser levado muito a sério por Haddad

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:07

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O déficit habitacional na cidade de São Paulo é da ordem de 890 mil casas. Segundo a Secretaria Municipal de Habitação, a CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano – e o Ipea, algo como 1,5 milhão de pessoas vivem em situação de risco na capital.

Foi uma pequena amostra desse contingente que deu as caras em frente à prefeitura na quarta-feira (11), buscando ser atendida pelo prefeito Fernando Haddad.

Durante a campanha, Haddad prometeu a construção de 55 mil domicílios a serem entregues até o final da sua gestão, em 2016. Talvez seja uma meta realista e pé no chão, mas um número minúsculo diante da necessidade pé-na-lama dos sem-teto.

E conversar com quem sofre na pele as agruras do não ter onde morar dá uma dimensão da urgência que o tema impõe.

Aline Bruna dos Santos estava com os dois filhos na manifestação coordenada pelo MTST. O mais novo ainda não completou um ano. Ex-moradora do Capão Redondo, Aline foi despejada e está vivendo há um mês na ocupação chamada Palestina. Os banhos são feitos na base do balde, com água cedida por um vizinho.

Jovem, sozinho e sem filhos, o tratador de cavalos Alberto Feitosa Ribeiro talvez não desperte a mesma solidariedade e por isso precisa caminhar quase 10 quilometros até a casa de um amigo para tomar banho. Ele também está doente em consequência das noites sobre um colchão molhado. Está desempregado assim como Kelly Mayane, de 21 anos, formada em RH e com curso técnico de Administração. A falta de um endereço, segundo ela, tem sido fator decisivo para negativas de emprego.

A ocupação Palestina é recente, existe há cerca de um mês mas era uma das prioridades nas tratativas de ontem pois já teve sua reintegração de posse decretada. Segundo Ana Paula Ribeiro, coordenadora estadual do movimento, são 5 mil famílias que lá estão e o “cumpra-se” de um mandato pode ser efetuado a qualquer momento.

Mas eram representantes de um total de doze ocupações que foram às ruas exigir agilidade e empenho nas soluções. Diante do insucesso do atendimento na prefeitura, mais de 3 mil pessoas encaminharam-se então à sede do CDHU na rua Boa Vista. Uma comissão encabeçada por Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST, foi finalmente recebida pelo presidente do órgão. Na saída, houve comemoração.

“Houve alguns progressos. Nas ocupações mais antigas, desde 2005 aproximadamente, já há construções em andamento e a questão dos valores a serem liberados estava emperrando o processo. A CDHU estava achando muito caro pois querem apartamentos de 39 metros quadrados e nós queremos moradia digna, não caixas de fósforos. Mas a boa notícia é que foi acordado que o governo do estado entrará com recursos para complemento (os apartamentos em construção têm 63 metros quadrados). Já em relação às ocupações mais novas, como a Faixa de Gaza e Palestina, são áreas particulares. Para avançar, para se obter o projeto, necessita-se de estudos técnicos que são caros e o movimento não tem como arcar, mas acabamos de conseguir o comprometimento de que no começo de janeiro os técnicos do CDHU irão às duas àreas para realizá-los. É uma vitória extremamente importante”, discursou Boulos em cima do caminhão de som.

“Uma coisa temos certeza, estamos no caminho certo. Mas hoje saimos com algo engasgado na garganta. Dez mil pessoas na frente da prefeitura e serem tratados com a falta de respeito que foi… não vai ficar assim. Aquilo vai ter resposta. O que tivemos de negociações com o governo do estado a gente avançou. Agora, o que não avançou na prefeitura… o prefeito hoje não ganhou um inimigo, ganhou 10 mil. Com ele é o seguinte: ou ele tem a humildade de voltar atrás, ou ele não vai ter paz até terminar este governo”.

Não é uma questão de rápida solução. Além da enorme demanda, não se constrói uma casa em 24 horas. Mas se a prefeitura não colocar um rojão no traseiro, a gestão Haddad ficará marcada por um mar de lonas pretas espalhadas pela cidade.

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