O discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL) na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (20), chocou os governos estrangeiros por ter transformado a tribuna em um palanque eleitoral.
Segundo o jornalista Jamil Chade, observadores internacionais deixaram claro que Bolsonaro foi o retrato de um país “apequenado” no mundo, que não atua como protagonista e que perdeu seu lugar de porta-voz dos países em desenvolvimento. A lista de supostos feitos de seu governo no plano doméstico foi recebida com incompreensão por diplomatas estrangeiros que estavam na sala na ONU.
Durante o discurso, o chefe do Executivo se omitiu sobre os quase 700 mil mortos na pandemia, as queimadas e desmatamento recorde, a destruição dos mecanismos de direitos humanos e seus ataques contra a democracia.
“Teu presidente não entendeu onde está, quem ele representa e o cargo que ocupa”, comentou um embaixador. “Ele (Bolsonaro) mente e acha que nós somos seus apoiadores?”, ironizou também um diplomata da América do Norte.
As repetidas referências aos cristãos feitas pelo presidente durante sua fala, inclusive com uma frase também usada por líderes fascistas no passado, foram consideradas por muitos, como sinais claros de que Bolsonaro não falava ao mundo, mas sim aos seus eleitores. “Poucos hoje prestam atenção às suas [de Bolsonaro] propostas. Se não fosse o primeiro a falar, dificilmente o mundo estaria escutando o que ele tem a dizer”, afirmou um diplomata europeu.
As falas do presidente brasileiro não foram mal vistas só por países estrangeiros, entre as entidades brasileiras, as críticas também foram duras. Para o Observatório do Clima, “Bolsonaro usou seus cerca de 20 minutos de fala da ONU para fazer palanque, tentando energizar suas bases descrevendo um Brasil de faz-de-conta”.
“Embora governos passados tenham registrado taxas de desmatamento maiores na Amazônia, o regime Bolsonaro foi o único que não apenas não fez nada a respeito como estimulou ativamente o crime ambiental e o massacre de indígenas. Daí ter sido o primeiro governante brasileiro desde o início das medições por satélite a ver o desmatamento subir três vezes seguidas num mesmo mandato”, destacam.
“É desse país que a comunidade internacional se despede nesta terça-feira, com a esperança de que a partir de 2023 o Brasil tenha um novo governo, disposto a cuidar da própria população e a reinserir o país no mundo”, completa a entidade.