Não era bem o que ele queria. Por Moisés Mendes

Atualizado em 28 de abril de 2020 às 22:43
Sergio Moro e o presidente da República. Foto: Marcos Corrêa/PR

Publicado originalmente no blog do autor

Um cavalo que o conduza de volta a Curitiba e o afaste de Brasília e do poder que ele achou que teria. É o que Sergio Moro mais deseja.

O ex-juiz sonhava com as delícias de um governo de Aécio e teve as milícias do governo de Bolsonaro.

Por muito tempo, a própria direita conviveu com a ilusão de que Sergio Moro era um magistrado com escrúpulos, preocupado apenas em caçar corruptos de esquerda e encarcerar Lula.

Moro teria como limite a obsessão em ficar na História como o juiz que pegou Lula. Mas muitos sabiam e fingiam não saber que ele desejava mesmo se aproximar dos tucanos.

Ficar amigo e parceiro de Aécio, Serra, Alckmin. Moro queria ser da turma de Fernando Henrique Cardoso e virar um bacana.

Deu errado, mas ele achou que no fim havia dado certo por caminhos mais espinhentos. Chegaria ao poder e, com certo sofrimento, dali ao STF com o suporte de Bolsonaro, o homem que ele esnobou e constrangeu no aeroporto de Brasília ao negar-lhe um cumprimento de mão.

Bolsonaro era o cara infectado pelo que tem de pior na política e por isso Moro, o isento, não quis cumprimentá-lo. Mas Bolsonaro chegou lá.

Moro cedeu e achou que seria amigo dos filhos de Bolsonaro, que iria aturá-los, que teria de aceitar seus rolos, o Queiroz, os laranjas do PSL, e que no fim seria recompensado.

Deu tudo errado e agora o ex-juiz terá de enfrentar a Justiça como acusador do homem que esperava dele a missão de fazer os serviços sujos.

No governo, Moro fixou um limite que não tinha na Lava-Jato. Deixou o serviço incompleto.

Se não tiver provas contra Bolsonaro, poderá ser processado por denunciação caluniosa e talvez recorra ao argumento de que agiu sob violenta emoção.

O ex-juiz passa a enfrentar a arapongagem dos filhos de Bolsonaro e das almas delatoras da Lava-Jato.

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DIFERENÇAS ARGENTINAS
Se morassem na Argentina, brasileiros aliados da peste que pregam contra o isolamento social seriam presos e processados.

Lá, tudo é diferente. Os ditadores e seus cúmplices foram presos e julgados e muitos estão encarcerados até hoje.

Aqui, os ditadores nunca foram julgados. E os generais voltaram ao poder e são comandados por um tenente que, segundo o general Eduardo Villas Bôas, é político e não militar.

No dia 11 de novembro de 2018, em entrevista a Igor Gielow, na Folha, Villas Bôas afirmou:

“A imagem dele como militar vem de fora. Ele é muito mais um político. Estamos tratando com muito cuidado essa interpretação de que a eleição dele representa uma volta dos militares ao poder”.

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