Para encurtar: um absurdo multar mulheres por usar burca, como está acontecendo na França. Aliás: o absurdo começa em proibir o uso. Mais: na terra que criou a frase que definiu os anos 6o. É proibido proibir.
O argumento cínico que tem sido usado é que a restrição no fundo favoreceria as mulheres muçulmanas, porque supostamente elas seriam obrigadas pelos maridos a se cobrir por inteiro.
Quem acredita nisso acredita em tudo.
É, na verdade, mais uma manifestação do antiislamismo que vai se espalhando perigosamente pela Europa. Lembremos. Há pouco tempo um homicida serial na Noruega matou copiosamente porque achava que seu governo não estava lidando direito com a “ameaça islâmica”. Em sua monumental História da Inglaterra — cuja leitura fascinante devo ao Projeto Gutenberg, de cujo fundador morto falei dias atrás — o escritor, historiador e filósofo David Hume escreveu: “Em nenhum momento a natureza humana aparece de forma tão detestável, e ao mesmo tempo tão absurda, como nas perseguições religiosas, que afundam o homem abaixo dos espíritos do inferno em maldade, e abaixo das feras em selvageria.” (Hume narrou o caso de uma mulher grávida que foi condenada a morrer numa fogueira na época da Rainha Maria, primogênita de Henrique 8. Ela deu à luz na agonia, e um dos presentes tirou a criança. Mas imediatamente veio de um líder católico uma ordem para que o bebê fosse devolvido às chamas.)
Num recente pronunciamento, o papa Bento 16 instou os islâmicos a tentar compreender melhor os outros. O alvo foi errado. A mensagem deveria ter sido dirigida aos não inslâmicos, como mostra o exemplo francês, aliás um entre tantos.