Thais Buratto faz parte de uma longa lista de pessoas que se deram mal pelo mesmo motivo.
O pai de Thais Buratto da Silva pôs a filha numa fria por causa de uma piada explosiva. Ela ia para Bali, participar de um congresso. No check-in, Renato Camargo da Silva brincou: “Ainda bem que não acharam que você é terrorista”.
Os funcionários da Qatar Airways a impediram de entrar no avião. “Não foi alto. Foi uma brincadeira entre nós, um comentário que talvez não precisava ter sido feito, mas foi feito para mim”, disse ela ao Estadão.
A Qatar, numa nota, alegou que os empregados estavam colocando em prática sua política de segurança de tolerância zero. Thais avisou que vai entrar com uma ação por danos morais. A USP, que bancou a passagem de 6 mil reais, já tirou o corpo fora.
Tudo bem. A companhia foi rigorosa. Mas qual o sentido de fazer uma piada dessas no aeroporto? Se no churrasco da família, com seu tio encharcado de ponche, isso já não tem graça, por que teria no balcão de uma empresa aérea do Qatar?
Uma explicação possível é a chamada “pulsão tanática” — uma necessidade de causar, de fazer o que é proibido, desafiar. É o que leva alguém, por exemplo, a pular de um abismo ou entrar num lugar onde está há uma placa escrito “Não entre”. A outra opção é falta de noção, mesmo.
Thais não está sozinha. O inglês Paul Chambers foi detido por causa de um tuíte. Durante uma nevasca em 2010, em que sua namorada ficou presa no aeroporto Robin Hood, ele postou: “Merda! Vocês têm uma semana para consertar isso ou eu vou mandar tudo pelos ares”. Em pouco tempo a polícia estava à sua porta.
A estudante Samantha Marson acabou presa em Miami porque falou que carregava três bombas em sua bagagem. Foi libertada depois de pedir desculpas em público. Um adolescente chamado Sufyan Sadiq foi barrado num vôo que ia para Lanzarote ao mentir que tinha uma arma na mochila. Um médico de Nova York, Hany Mossad-Boktor, brincou que estava levando “algumas bombas e um pouco de dinamite” na mala. Cães farejadores foram revistá-lo.
No ano passado, Alejandro Hurtado, que se definiu como “piadista inveterado” e “uma pessoa que gosta de rir”, provocou o evacuamento parcial do aeroporto de Miami por ter falado no portão que estava com explosivos. Em 2004, os brasileiros Mizael Cabral e Daniel Correa também se estreparam ali. Perguntaram ao agente que revistava suas coisas se ele já havia encontrado a bomba que escondiam.
A lista é longa. Se você pensar nos casos que antecederam o de Thais, saiu barato. Liberdade de expressão não inclui gritar “fogo!” num cinema lotado. Não há muito o que pensar: não faça piadas sobre terrorismo num aeroporto. Se ela for inevitável, que pelo menos seja engraçada.