“Não façam essa loucura”: o conselho de um trabalhador chileno sobre o projeto de Guedes para aposentadoria

Atualizado em 16 de maio de 2019 às 13:22
Eduardo Gonzalez: “se eu não ajudasse meu pai, ele morreria de fome”

Edgardo Gonzalez nos conduz em seu táxi até o aeroporto internacional Arturo Merino Benítez, o principal de Santiago, Chile, quando surge o assunto Jair Bolsonaro, inevitável para o brasileiro no exterior. E ele fica surpreso ao saber que o governo quer implantar o modelo chileno de aposentadoria.

“Que loucura. Aqui não deu certo. Vocês vão fazer isso mesmo lá?”, pergunta.

Edgardo então conta que o pai pagou durante 40 anos o equivalente a 100 dólares todos os meses. Hoje, aos 73 anos, ele recebe o equivalente a 200 dólares a cada 30 dias. “Mal dá para comer”, diz ele, que lembra como é alto o custo de vida no país.

Para complementar a renda, o pai de Edgardo pega o táxi emprestado do filho todos os dias à tarde, para trabalhar pelo menos seis horas. Ainda assim, com a renda do táxi, não fecha a conta.

“Sou eu que compro remédio para ele e para minha mãe e, para não deixar que eles passem necessidade, moramos juntos”, disse.

Edgardo vê as organizações privadas que administram a aposentadoria no Chile, as AFPs, como instituições desonestas.

“São os mais ladrões. Meu pai pagou 100 dólares todos os meses e não vai receber de volta o que deixou para esse pessoal enriquecer”, afirmou.

Por conta disso, ele é um dos chilenos que estão fora do sistema de capitalização para aposentadoria. Para ele, contribuir ou não dá quase o mesmo resultado.

A mãe, que nunca contribuiu, recebe o equivalente a 150 dólares de um programa social do governo.

“É muito pequena a diferença. Por que eu vou pagar se, lá na frente, posso receber os 150 dólares?”, raciocina.

Mesmo assim, com 150 ou 200 dólares, o aposentado chileno viveria na rua se não tivesse ajuda de parentes. “Teria que vender casa, tudo, para não passar fome”, observa, gesticulando muito.

Edgardo diz que o Brasil deveria deixar o sistema de capitalização de lado e copiar o que deu certo no Chile. “A saúde pública é muito boa. Tem saúde privada, mas a pública é tão boa quanto a privada”, conta.

Mas logo o assunto volta para as dificuldades do aposentado.

“A saúde pública é boa, mas o remédio é caro e é pago, e com remédio todo todo aposentado gasta muito”, lembra.

Ao chegar no aeroporto, Edgardo retira as malas do bagageiro e se despede. Autoriza a foto e faz um último comentário:

“Não façam essa loucura. A aposentadoria no Chile não funciona”