A despeito das irregularidades – para ficar em duas: a compra suspeita de um apartamento de alto padrão e o fato de Luiz Roberto dos Santos, o Moita, seu então chefe de gabinete, ser o operador do escândalo da merenda –, um detalhe chama a atenção na saída do secretário da Casa Civil do Governo de São Paulo, Edson Aparecido.
Nem bem assinou a exoneração, que acontece nesta sexta, 25, ele já adiantou que será candidato a vereador em São Paulo.
Faz sentido. Aparecido é um ativista profissional e a política, o seu meio de vida.
Aparecido começou no movimento estudantil, como estudante pobre no curso de História na PUC na década de 70. Foi assessor do então vereador Walter Feldman (1985-88) até cair nas graças de Sérgio Motta.
É um dos fundadores do PSDB – ia de ônibus a Brasília protocolar os documentos para a implantação do partido.
Como assessor de Sérgio Motta durante o primeiro governo de Fernando Henrique, participou do processo de privatização das telecomunicações.
Após a morte do chefe, e com apoio da viúva, Vilma Motta, conquistou seu primeiro mandato parlamentar: foi eleito deputado estadual em 1998.
Reeleito quatro anos mais tarde, e depois mais duas vezes deputado federal, não parou mais de subir na hierarquia do partido.
Foi presidente municipal e estadual do PSDB, coordenador de diversas campanhas até tornar-se secretário de Desenvolvimento Metropolitano e em seguida, já na condição de principal homem de confiança de Alckmin, secretário da Casa Civil.
Começa a pré-campanha a vereador já nesta sexta, tão logo limpe a suas gavetas no Palácio dos Bandeirantes, porque está sem mandato em função de ter atendido uma solicitação do governador em 2014 – Alckmin pediu que se dedicasse exclusivamente à sua reeleição ao Governo de São Paulo, costurando acordos com líderes de partidos aliados e prefeitos do interior.
Nos bastidores o motivo da saída não é suspeita de corrupção: Aparecido teria discordado da candidatura João Doria à prefeitura da capital, contrariando a determinação do chefe.
Chegou a expressar publicamente isso num encontro com militantes na Fecomercio – quando foi anunciado que a candidatura do publicitário “era o primeiro passo” na corrida de Alckmin pela Presidência da República, em 2018.
“Todas as vezes em que saímos divididos nós perdemos”, discursou, numa referência ao embate interno entre Doria e Andrea Matarazzo, que tinha apoio de Fernando Henrique, Serra, Alberto Goldman e Aloysio Nunes, entre outros cardeais.
Os próximos passos de Aparecido vão sinalizar o que deve acontecer no PSDB daqui em diante: desgastado com Alckmin e Doria, ele tem até os primeiros dias de abril para decidir se continua no partido ou disputa a eleição por outro – neste caso, o PMDB ou o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, siglas que estão sendo instrumentalizadas para abrigar os tucanos contrários a Alckmin e que tramam com Michel Temer a queda de Dilma e a tomada de Brasília.